“Pode acontecer com qualquer pessoa: com a sua filha, irmã, mãe, e em qualquer país do mundo. Ninguém está livre. Isso já aconteceu muitas vezes na Espanha, no Brasil e na América. Então, não diga bobagens pelo fato de estarmos na Índia”
Esta foi a resposta de Fernanda Santos a alguns comentários de internautas sobre o estupro coletivo que sofreu esta semana. Aconteceu com ela na Índia, acontece com centenas de mulheres todos os dias ao redor do mundo.
Casos de estupro como o que sofreu Fernanda são um problema grave no país onde, por dia, são violentadas cerca de 90 mulheres. Em 2012, Jyoti Singh, uma jovem de 23 anos, foi estuprada dentro de um ônibus pelo motorista e cinco outros homens em Delhi. Ela morreu duas semanas após o ataque. O caso desencadeou uma série de protestos que levaram a algumas mudanças nas leis do país como definições mais amplas de violência contra as mulheres, penalidades para ineficiência da policia e punições mais rígidas para os criminosos, inclusive com a pena de morte.
Adiantou? Na realidade não. Os últimos dados disponíveis davam conta que dez anos após o caso de Jyoti, ou seja em 2022, a taxa de crimes contra as mulheres tinha aumentado em mais de 50% na Índia.
O caso da Fernanda ganhou visibilidade, enquanto outros milhares permanecem subnotificados e subestimados. Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 35% das mulheres entre os 15 e 49 anos já foram vítimas de violência física e/ou sexual em todo o mundo. Os dados fazem parte de um estudo realizado entre os anos de 2000 a 2018.
A percentagem mais alta destas agressões verifica-se na Oceânia (49%), seguido da África Subsariana (44%) e da América Latina (38%). Na Europa, cerca de 23% das mulheres nesta faixa etária já foram agredidas, ameaçadas ou violadas.
O Brasil tem o alarmante número de cerca de 822 mil casos de estupro por ano, o que significa dois por minuto, de acordo com um estudo recente publicado pelo Instituto de Pesquisa Aplicada, o IPEA.
A violência sexual afeta pessoas de todas as idades, orientações sexuais e origens étnicas em diversos contextos, como os conflitos armados, o abuso dentro de casa, o tráfico humano e o assédio sexual no local de trabalho.
Ainda há quem duvide, quem procure relativizar, e é por isso que devemos aproveitar momentos como este e gritar em coro: a culpa nunca é da vítima.
Aqui, repito o que disse Fernanda: “Pode acontecer com qualquer pessoa: com a sua filha, irmã, mãe, e em qualquer país do mundo. Ninguém está livre”
E como falar sobre temas assim nunca é demais, sugiro que você leia ou releia A morte nossa de cada dia, texto que publique aqui em setembro passado.
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Foto da Capa: Reprodução de Redes Sociais