Esses dias, uma amiga fez esse comentário comigo em tom de reclamação… referindo-se à onda de reels, stories, posts, comentários em geral que tem recebido a respeito do assunto e que, na sua opinião, faziam com que tudo fosse transformado num bicho de sete cabeças e, ao mesmo tempo, desse um nó na sua cabeça, se é que você me entende (a língua portuguesa com suas metáforas!). Concordei com ela.
Realmente, da forma como hoje está colocado, fica confuso compreender o que é idadismo e o que não é. Afinal, é feita muita confusão entre diversos conceitos. Cada um falando sobre o que (acha que) entende a respeito, dando seu pitaco.
Mas aí, conceitos como velhofobia, gerontofobia, jovencentrismo são misturados ao etarismo por quem, supostamente, o público ou seguidores, imaginam que estão sendo informados e orientados a respeito, em troca de views, likes e engajamento.
Afinal, o idadismo causa prejuízos na saúde. Ele leva à solidão, depressão, doenças físicas, inclusive. Nos EUA, pesquisa apontou que causa uma despesa de 32 bilhões de dólares ao ano e pode diminuir a vida em até 7,5 anos, conforme estudo divulgado pela OMS.
Há toda uma linha de discurso que “vende” que a velhice é maravilhosa e que, especialmente, ser uma mulher 50+ é espetacular… é isso mesmo?
Como cantava Elis: “Vivendo e aprendendo a jogar. Nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar”. Assim, a gente que está há mais tempo no jogo da vida carrega mais experiência e mais manha nele. Novas e diferentes jogadas vão sendo feitas. A gente continua aprendendo, mas com a vantagem da experiência acumulada, mesmo que vez por outra encontre um “duplo twist carpado” que nos desafie.
Mas seja com a velhice já instalada ou não, vamos nos dando conta de que os limites vão chegando. Talvez seja o remédio da pressão ou do colesterol que nos dê os primeiros avisos, ou os óculos que nos digam que a visão já não é a mesma, ou a bursite que apareceu. Então, aquela maravilha não é real.
Pra nós, mulheres, o envelhecimento traz uma carga dupla de discriminação. Se ao longo da vida a gente já sofreu porque era mulher, com a sobrecarga de trabalho, com a necessidade de ser a cuidadora de todos ao redor, de manter o padrão de beleza apesar de tudo isso. Com o envelhecimento, vem a invisibilidade. De nenhuma dessas amarras somos liberadas espontaneamente, a não ser que a gente se rebele. A boa notícia é que, conforme vamos envelhecendo, vamos perdendo a vergonha e ganhando cada vez mais disposição a dizer não ao que nos faz infeliz.
Há toda uma linha de discurso que “vende” que, mesmo sendo velhos por fora, o importante é mantermos o espírito jovem… tem certeza disso?
Sim, a gente envelhece e, conforme isso acontece, mais velhos vamos ficando. E isso é o curso natural da vida. E se velhos estamos, é porque vivos continuamos.
Palavras são pensamentos. Quando se diz “espírito jovem”, revela-se um estereótipo jovencentrista, porque centrado na ideia de que a juventude é a idade ideal, a “melhor idade”. E sabemos que isso é uma fantasia. Se pararmos para pensar, nossa juventude foi cheia de contradições, angústias, ansiedades, medos, preocupações com o futuro, cometemos erros homéricos, maior parte de nossas atitudes imaturas, porém idealizamos a perfeição.
Há toda uma linha de discurso que “vende” o autocuidado e bem-estar como sinônimo de longevidade. Porém, conectados à imagem e beleza.
Autocuidado e bem-estar são importantes para a longevidade, há extensas pesquisas e trabalhos a respeito. No entanto, quando estão a serviço da imagem e beleza, vamos combinar que não pode dar boa coisa, pois nos prende num padrão de beleza. Isso me faz lembrar de um recente Manifesto anti-etarista da Claudia Ohana, atriz brasileira, na Av. Paulista, em São Paulo, que empunhava um cartaz afirmando “nós não estamos velhas aos 62 anos”. A respeito dele, ela afirmou que “Um número não me define. O que me define é a minha disposição, a minha felicidade, a minha vontade de aprender e os meus sonhos”.
Desculpe, Claudia, mas sim, você está velha aos 62 anos. E ser anti-etarista é possuir orgulho da sua trajetória de 62 anos percorridos até aqui. E esse é um dos motivos pelos quais um número, a nossa idade, nos define: a nossa experiência, os nossos anos de vida.
Além disso, em todo o vídeo, a câmera passeia pelo corpo dela, vendendo sua imagem e beleza de mulher que está de acordo com um padrão que a grande maioria das mulheres (mesmo as mais jovens) jamais conseguirá atingir. Ela fala no release que mandou pra imprensa em disposição, felicidade, sonhos… mas o que ela viraliza e engaja no vídeo é o seu corpo e sua imagem.
Há toda uma linha de discurso que “vende” o cuidado com a saúde como sinônimo de longevidade.
A medicalização sem a devida orientação de um profissional da saúde de vitaminas e hormônios pode se tornar um perigo, que também pode ser estendido aos procedimentos estéticos. Isso porque mexe com o medo de muitas pessoas de “envelhecerem”. Este medo, se patológico, pode ser gerontofobia ou gerascofobia.
Majoritariamente, desde a mídia, redes sociais, influencers e até mesmo alguns ditos especialistas, informam que o etarismo / idadismo / ageísmo ocorre contra pessoas mais velhas, o que é uma meia verdade. Ele é um preconceito que acontece com relação à idade, seja uma criança, adolescente, jovem ou pessoa idosa. Porém, com o envelhecimento, o idadismo vai ficando pior. O etarismo contra a pessoa idosa se instala a partir dos quatro anos de idade. Por estudo, globalmente, a cada duas pessoas, uma é idadista com relação à pessoa idosa.
Outro dia assisti a um palestrante que, no intuito de elogiar o perfil das pessoas 60+, resolveu falar mal dos adolescentes. Ou seja, por desconhecimento, cometeu idadismo contra os adolescentes. Uma oportunidade perdida de aprendizagem. Quem sai perdendo com isso? Todos nós.
Precisamos de educação para longevidade. Precisamos de informação segura, confiável, de qualidade, responsável para que crianças, adolescentes, jovens, adultos e pessoas idosas aprendam o que, quando e como fazer para envelhecerem bem e fazerem o melhor possível de acordo com os recursos que tiverem para terem a melhor longevidade que puderem.
Últimos dias para inscrição no Evento Letramento em Longevidade e Etarismo.
Nele, promoveremos uma jornada de aprendizado e reflexão sobre conceitos importantes do Envelhecimento, Longevidade, Etarismo e Economia Prateada, promovendo uma conexão para quem quiser uma iniciação nessas áreas. Seja parte dessa transformação e contribua para a construção de um mundo mais acolhedor e consciente das necessidades e potencialidades de todas as pessoas, independentemente da idade.
Faça já a sua inscrição no Letramento em Longevidade e Etarismo e venha fazer parte desse movimento que busca promover o respeito e a valorização da pessoa idosa em nossa sociedade. Estamos te esperando para juntos explorarmos as inúmeras possibilidades de crescimento que o envelhecimento pode nos proporcionar.
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Foto da Capa: Gerada por IA.