O peixe salta do aquário: o ego se aventurando fora do seu meio. O aquário é o mundo estabelecido, a redoma que nos fizeram crer segura, nos fizeram acreditar ser a única possível, a única disponível. Mas acontece que o aquário é artificial. A redoma de vidro não é o meio do peixe, é apenas um espaço criado para o ego, uma prisão, onde a água não flui, está estagnada, pobre de todos os elementos. A água verdadeira se move pelo universo exterior e interior de cada Ser, rica de todos os elementos.
Por volta dos anos 60 do século passado, começamos a entrar na Era de Aquarius, e o peixe agora já intui fortemente que é hora de abandonar a redoma/prisão do aquário criado pela mente humana – com seu status quo de arrebatada violência que regeu as últimas eras – e saltar para o universo. É hora do peixe reencontrar o seu verdadeiro meio de águas orgânicas, cósmicas, infinitas, em que a vida é plena, natural. Este é o seu/nosso destino e é chegado o momento de se cumprir – tudo já foi posto, dito, escrito e reescrito.
Da água viemos, da água vivemos, para a água retornaremos. *
Um copo de água não é apenas um copo de água. Feche os olhos e veja que o copo de água poderia fazer parte de um cometa, uma lua do oceano ou um mar desaparecido há muito tempo na superfície de Marte. Todo o sistema solar tem uma fonte compartilhada de água. Cada vez mais, a ciência comprova que a água está – e sempre esteve – em todo o universo, em forma de gelo, vapor ou líquido. Os seus elementos químicos, hidrogênio e oxigênio, são alguns dos elementos mais abundantes no universo.
Acredita-se que vários mundos possuam água líquida abaixo de suas superfícies, e muitos mais que possuem água na forma de gelo ou vapor. Observe, o céu noturno pode estar cheio de exoplanetas formados por processos semelhantes ao nosso mundo natal, onde ondas suaves lavam as margens de mares alienígenas. Ou observe a água em nuvens moleculares gigantes entre as estrelas, em discos de material que representam sistemas planetários recém-nascidos e, quem sabe, em um universo paralelo…
Uma recente descoberta revelou uma nuvem em forma de gelo servindo de combustível para um buraco-negro em expansão, dando origem a um Quasar (enorme buraco negro constantemente alimentado por um imenso disco de poeira e gás, gerando energia no processo). A transformação dessa nuvem resulta em um jato de vapor que se estende por centenas de anos-luz de distância, em quantidade suficiente para encher todos os oceanos da Terra 140 trilhões de vezes. Essa seria a primeira vez que a existência de água é comprovada em lugares tão distantes e tão antigos – essa observação remete ao que aconteceu há 12 bilhões de anos.
Quando eu estava grávida, vi, durante o ultrassom, a imagem do meu filho bocejando dentro do útero líquido. Foi um déjà vu indescritível. Aqui, onde habitamos, nosso imenso corpo de água está diretamente ligado aos ciclos biogeoquímicos e climáticos: água da chuva, água potável, tempo, clima, a nossa comida e o oxigênio que respiramos é fornecido e regulado ativamente pelos oceanos. Da água viemos, da água vivemos, para a água retornaremos.
*Com NASA e Astrophysical Journal Letters
Foto da Capa: Imagem digital / Acervo da Autora
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