Toda terça-feira vou à feira orgânica do meu bairro. Lá, um homem idoso, em situação de rua, semanalmente aborda os clientes pedindo que comprem produtos para ele, de frutas e verduras a um pedaço de bolo a uma dose de café. Nesta semana, escutei uma mulher também idosa responder a ele que deveria procurar um trabalho em vez de ficar pedindo. Qual é a sua opinião?
Em matéria da Carta Capital, “Idosos ‘sem-sem’: O caos geracional no Brasil”, são revelados números preocupantes para as pessoas mais velhas: “Somente em 2024, foram abertos quase 1,7 milhão de postos de trabalho, um crescimento de 16,5% em relação a 2023, ano em que o mercado de trabalho formal já dava sinais de melhoras, revelam dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego no fim de janeiro. Trata-se, sem dúvida, de excelente notícia para o país. Há, porém, um fator que suscita preocupações: 90% dessas vagas foram ocupadas por jovens de até 24 anos. Para os brasileiros com mais de 50 anos, o cenário é bem diferente: foram fechados quase 160 mil postos de trabalho.”
Na prática, sabemos que há setores em que, a partir dos 40 anos, profissionais já são considerados velhos para o mercado, como as áreas de TI e Publicidade e Propaganda, por exemplo. Então, se essas faixas etárias mais jovens sofrem com falta de oportunidade por conta da discriminação, imagine o que acontece com os profissionais, ainda cheios de vitalidade e capacidade, que se encontram nas faixas etárias dos 60, 70 ou 80 anos?
Em 2022, por exemplo, apenas 5% das pessoas 60+ conseguiram empregos no mercado formal de trabalho. Para todas as demais restou a “pejotização”, o trabalho informal e o “empreendedorismo” (conforme dados do Sebrae, a maioria das pessoas 50+ empreende por causa da necessidade).
Mais preocupante se torna essa situação porque, como mencionado no título da matéria, estamos começando a vivenciar o fenômeno das pessoas “sem-sem”, ou seja, sem trabalho e sem aposentadoria, pois, por conta das inúmeras reformas previdenciárias que já tivemos, essas que hoje estão desempregadas também não são elegíveis para usufruir dela, como seriam em tempos passados.
E, nesse grande grupo de pessoas no mercado formal, há desigualdades. E as mulheres são as que têm maiores desvantagens, mesmo tendo maior escolaridade do que os homens no geral, no Brasil. E a mulher mais velha, a mulher idosa e negra, as mulheres idosas com deficiência, as mulheres idosas LGBTQIAPN+, as mulheres idosas ribeirinhas e indígenas, entre outros grupos, são ainda mais vulnerabilizadas. Em grande parte por causa da sua dupla e tripla jornada que começa na adolescência e só aumenta ao longo da vida. Também por causa do sistema machista instalado nos ambientes que vivemos e, muitas vezes, não percebemos ou normalizamos.
Atualmente, 80% das pessoas idosas no Brasil sobrevivem da aposentadoria e do BPC – Benefício de Prestação Continuada. Como será no futuro, se hoje em dia as gerações presentes não são educadas a pensar no seu envelhecimento e na necessidade de poupança para sua velhice? Isso quando há renda para poupar, pois também vivemos numa realidade onde muitos jovens vivem em situações precarizadas, sem condições de poupança (ainda há que se considerar neste futuro a geração dos “nem-nem”). E se a discriminação com relação aos mais velhos continuar? Elas se tornarão os futuros “sem-sem”?
É importante a educação das pessoas jovens para a longevidade e envelhecimento. Fundamental! Por estudos, o idadismo se instala a partir dos 4 anos! Com educação, estaremos construindo um futuro melhor para nossas gerações (e cumprindo com o Estatuto da Pessoa Idosa, por sinal)! Por causa disso, te convido a assinar a petição pela inclusão do tema envelhecimento nas diretrizes curriculares, clicando aqui.
Também é importante que políticas e programas sejam executados no sentido de incentivar empresas do setor público e privado a contratarem pessoas mais velhas. A estrutura institucional idadista é muito forte em nossa cultura. Precisamos quebrar paradigmas preconceituosos com urgência. Então, sugiro que se ofereçam vantagens, um “empurrão”, para que se agilize o processo de diversidade etária no mercado de trabalho formal brasileiro.
Numa palestra dessa semana, foi citada uma frase de José Pastore que gosto bastante, porque sua objetividade e simplicidade explicam bastante a nossa situação, a de que “o Brasil ficou velho antes de ficar rico”. E essa é uma das razões pelas quais não podemos ficar dormindo em berço esplêndido e precisamos trabalhar para aproveitar o tempo e a capacidade que temos para que as pessoas e a nossa sociedade prosperem.
E porque hoje é 1º de Maio, Dia Internacional do Trabalhador, que tal começar a pensar sobre como trabalhar pra essa causa?
Todos os textos de Karen Farias estão AQUI.
Foto da Capa: Marcelo Camargo / Agência Brasil