Quem tem mais de 50 anos certamente já se emocionou com Elis Regina cantando a composição do Belchior que em seus versos diz:
Não quero lhe falar, meu grande amor
Das coisas que aprendi nos discos
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
No dia 26 de setembro ocorre o lançamento, nos cinemas de todo o Brasil, do filme “Ainda Somos os Mesmos”, que conta uma história baseada em relatos verídicos de João Carlos Bona Garcia, um jovem estudante da época, que viveu 42 dias na Embaixada da Argentina em Santiago, no Chile.
Em 1973, com o golpe de estado de Pinochet, o Chile se tornou um dos lugares mais perigosos do mundo e os únicos lugares seguros eram as embaixadas. O personagem Gabriel e uma centena de brasileiros correram para a Embaixada da Argentina e lá a vida se revelou de uma maneira primitiva, como só o confinamento pode ter. Fernando, um rico empresário e pai de Gabriel, vai ao Chile e tenta resgatar o filho.
O filme de Paulo Nascimento, com Edson Celulari, Carol Castro e Lucas Zaffari no elenco, mostra a necessidade de tolerância, coisa que a história já nos mostrou, mas que não aprendemos a lição. Pinochet deu um golpe de estado com o apoio da CIA, dos EUA, derrubando o presidente Salvador Allende, democraticamente eleito. Esse regime deixou mais de 3 mil mortos e desaparecidos, torturou milhares de prisioneiros e levou ao exílio mais de 200 mil chilenos.
As ditaduras militares no Chile (1973-1990), Argentina (1976-1983), Uruguai (1973-1985), Paraguai (1954-1989), Brasil (1964-1985) e em tantos outros países, não podem ser esquecidas para não serem revividas. Filmes como “Ainda Somos os Mesmos” e “Ainda Estou Aqui” são resgates da história para reavivar nossas memórias e para mostrar para as novas gerações que a pior das democracias ainda é melhor que qualquer ditadura.
Quando vejo nos dias de hoje pessoas pedindo a volta da ditadura militar, se eu pudesse, faria uma sugestão de alteração na letra ao Belchior para:
Minha dor é perceber
Que apesar de termos feito tudo o que fizemos
Ainda tem gente que ama o passado
E acredita na narrativa dos perigos do comunismo
A liberdade é uma conquista, mas para preservá-la é preciso defendê-la, e a melhor maneira de fazer isso é transmitir esse valor para os nossos filhos e para as próximas gerações. “Ainda Somos os Mesmos” e “Ainda Estou Aqui” são lições que deveriam passar a fazer parte do currículo das escolas e das universidades. Fica aqui o convite para você prestigiar o cinema nacional e assistir “Ainda Somos os Mesmos” nesta semana.
Foto da Capa: Divulgação
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