Alguma atitude da moçada de hoje te choca? E dos seus amigos “mais descolados”? Quero dizer, com algumas atitudes você fica surpreso, desconfortável ou meio sem saber como reagir? Por exemplo, dois casais de amigos estavam jantando num restaurante e a mulher de um deles viu, em outra mesa, outro casal e disse: “Eu já transei com aquele cara ali”. Ninguém na mesa fez algum comentário e a conversa continuou como se ela tivesse dito que a toalha da mesa era bonita. Confesso que, diante de situações como esta, eu me esforço para torná-la corriqueira. Não se trata de preconceito, mas de ser surpreendido pela ação ou depoimento da pessoa. Pensando nisto, resolvi analisar como foi o comportamento da minha geração. Voltei um pouco mais no tempo e analisei o que a geração dos meus pais fez que poderia ter chocado os meus avós. Te conto isto agora.
Conflito de gerações sempre existiu, mas acredito que as gerações passadas eram muito cerceadas pelos costumes da época e pouco faziam de diferente dos seus antepassados. Analisando a história da minha mãe, lembrei que ela teve um namorado quando tinha 15 anos, um “ótimo partido”, e logo a minha avó e minhas tias passaram a pressioná-la para se casar. O rapaz era filho de um fazendeiro rico, era dez anos mais velho do que ela e também queria se casar em seguida. Minha mãe namorou por dois anos e resolveu terminar o namoro. Foi um choque na família e deu “falatório” na cidade. Onde se viu uma moça pobre desistir de um casamento destes? Em resumo, minha mãe passou a ser considerada uma solteirona encalhada até os 20 anos, quando conheceu o meu pai.
A minha geração foi bem mais rebelde, ouvíamos rock and roll a todo volume, usávamos cabelos compridos e roupas que chocavam nossos pais. Alguns vinham de famílias tradicionais conservadoras e se tornaram ateus, de esquerda e tudo mais que os pais detestavam. Quando um casal de namorados resolvia morar juntos, os pais logo perguntavam: “Então por que não se casam?” A virgindade das meninas ainda preocupava os pais.
Analisando o comportamento da atual geração, convivo semanalmente com uma garotada de 18 aos 22 anos nas minhas aulas, percebo muitas diferenças entre o antes e o depois da pandemia. Nas minhas aulas, costumo fazer atividades externas e permito que os alunos levem acompanhantes. Antes, alguns perguntavam se podiam levar um amigo ou uma amiga. Depois da pandemia, meninas perguntam se podem levar a namorada e meninos se podem levar o seu namorado. Nos meus 26 anos de professor, trabalhando com alunos de características muito semelhantes, percebo que nestes dois últimos anos os alunos se sentem muito mais confortáveis para falar das suas relações homoafetivas. Que bom que isto acontece e que eles podem mostrar quem eles são. Por outro lado, algumas relações na sociedade ainda são tabus, sabe-se que existe o poliamor e “trisal ou Ménage à trois” (de três pessoas), mas estas não são assumidas da mesma forma, ainda existe um certo temor de chocar os demais. Observo também como cresceu o uso de palavrões em sala de aula. Óbvio que a minha geração também dizia palavrões, mas era raro alguém dizer mais do que um PQP, merda ou coisa similar. Hoje, palavras como foda, caralho e cagar saem naturalmente da boca de alunos com diferentes identidades de gênero em qualquer ambiente.
A geração Z, que é a dos meus alunos, não tem o mesmo senso de hierarquia da minha geração. Isto não me choca porque eu não me coloco em posição hierárquica superior a eles, digo que eu tenho alguns anos a mais de estrada e um papel diferente a cumprir na sala de aula. Porém, outros colegas reclamam que os alunos não “os respeitam”. Uma colega reclamou da abordagem da aluna: “profi, tu tá de brincadeira comigo, né?” Nas empresas, eles também se referem aos chefes como “tu” e se colocam de igual para igual. Isto choca “seus superiores” da geração anterior.
Se historicamente uma geração choca a anterior com o seus hábitos e sua linguagem, provavelmente os filhos dos meus alunos também irão chocar seus pais de alguma forma. Eu tento imaginar o que virá com as gerações dos nossos netos e bisnetos? De onde virão as novidades? Comportamento sexual? É verdade que já escandalizou muitas gerações, mas acho que agora não tem mais no que inovar! Moda? Me parece que tende mais a se repetir do que inovar! Drogas? Cada vez mais deprimentes! Como que os filhos irão conseguir chocar os seus pais?
Que bom que vivemos tempos em que os hábitos se modificam, que não existe mais uma “conduta moral” correta, que temos a liberdade de nos expressarmos como desejamos. Isto é um privilégio nosso, pois em pleno 2023, homens e mulheres em muitos países são condenados a morte por desejarem ser e fazer o que fazemos. Só recentemente a Arábia Saudita permitiu que mulheres assistam e pratiquem esporte e até 2018 eram proibidas de dirigir. Mostrar os ombros e os joelhos continua sendo um pecado. Já visitei o mundo árabe e isto sim me choca muito.