Desde sempre, se diz que brasileiro se interessa e participa pouco da política. Mas e os políticos, será que querem e trabalham para mudar essa situação?
Os “comerciais” dos partidos no rádio e na TV conversam com esse novo cidadão que – dono de um, ou mais, dos 460 milhões de smartphones, tablets, notebooks, PCs em uso no Brasil – fala e quer ser ouvido, dá opinião e quer ser levado em conta?
As assessorias de comunicação dos partidos políticos precisam, e com urgência, adotar uma prática comum na iniciativa privada: atentar para as experiências do cliente e do colaborador.
O marketing comercial já consagra o princípio de que os colaboradores – os trabalhadores das empresas – podem ser os melhores divulgadores das marcas, os melhores embaixadores dos produtos e serviços oferecidos pelas organizações. Inspirados pelas lideranças, os colaboradores impulsionam negócios, estreitam relações, fidelizam parcerias. Nas redes sociais, nos grupos de troca de mensagens, essa gente toda atua como megafones transmitindo mensagens positivas.
Da mesma forma, é preciso ouvir o cliente. Nas campanhas publicitárias, cada vez mais, os protagonistas são clientes falando da própria satisfação em relação a algum serviço, a algum produto. Cada vez, tem menos “gerente” dizendo que o banco dele é o melhor, cada vez menos “vendedor” dizendo que a forma de pagamento dele é a mais conveniente. E mais “clientes” garantindo que tal banco é o melhor, mais consumidores afirmando que tal rede de lojas é mais conveniente. Isso é resultado da relação da empresa com seus clientes.
O Brasil tem 33 partidos políticos registrados no TSE. Desses partidos, 21 têm bancadas na Câmara dos Deputados e 12 estão representados no Senado. Somados, eles têm pouco mais de 15 milhões de filiados. Apenas sete têm mais de um milhão de filiados. Números que dão bem a medida do desinteresse nacional pela política partidária.
E por que será que quase ninguém se interessa pelos partidos? Nem em tempo de eleição? No dia seguinte ao voto, o pessoal já nem se lembra em quem votou. Imagina se vai lembrar da legenda…Simples: os partidos também só manifestam interesse pelo que o cidadão pensa, quer e precisa naqueles meses que antecedem a eleição.
Ao contrário do gerente do banco, do vendedor do varejo, do gerente do supermercado, que estão sempre querendo conversar com o correntista, com o consumidor, os líderes partidários se apresentam aos clientes em monólogos onde garantem que podem resolver todos os problemas e dar voz a cada um…
Aí, você vê o comercial do banco, entra no App e tem um novo serviço para você. Vai comprar um sapato e a loja tem uma novidade para facilitar a sua vida, faz uma encomenda e ela chega no dia e na hora marcada. E, se não funciona direitinho você tem onde reclamar e como fazer a devolução.
Então você vê o político na TV garantindo que sabe como resolver seus problemas. Mas quando você sai para trabalhar, o buraco da rua continua lá, o trem e o ônibus passam lotados, a fila no posto de saúde é enorme, a falta de segurança assusta em cada esquina, o desemprego desanima… Reclamar contra o comercial político? Onde, como, se os partidos não aprenderam, até agora, a conversar?
Só na eleição mesmo. E, enquanto os políticos não sem modernizarem para manter uma comunicação permanente com a sociedade, os eleitores vão continuar – como se diz no futebol – cumprindo tabela, votando só para cumprir a obrigação, em vez de votar para exercer plenamente a cidadania. E, desse jeito, ainda vamos ter péssimos representantes no Poder Legislativo.
E, pior, esses monólogos comerciais dos políticos vão continuar levando o eleitorado a cantar, em coro, aqueles versos da dupla Evaldo Gouveia e Jair Amorim:
Conheço bem tuas promessas
Outras ouvi iguais a essa
Esse teu jeito de enganar conheço bem
Quando seria bem melhor que essas lideranças nos levassem a cantar como cantava Gonzaguinha:
Eu acredito é na rapaziada
Que segue em frente e segura o rojão
Eu ponho fé é na fé da moçada…
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