Eu tenho a sorte e o privilégio de empreender entre amigas. Fui impactada com um post de uma cliente sobre e percebi que falo pouco sobre as alegrias da vida adulta, a partir do momento que passa a dividir ambições com quem costumava dividir canetas coloridas, livros da faculdade, meio xis salada e meio cachorro quente de linguiça.
Meu primeiro negócio, eu só o percebi como sendo um negócio porque além de minha parente, mas principalmente minha amiga, via no que a gente fazia o que ela queria e o que eu sequer sabia o que seria.
No meu segundo negócio, de novo, ao lado de quem acreditava em transformações maiores do que minha realidade poderia imaginar, ao lado de quem não se conforma com respostas e que adora um “por que não?”, amigas que torcem para que eu complete o semestre do mestrado e que sabem onde eu guardo as minhas meias. Sócias.
Compreender porque a amizade pode ser um terreno fértil para que negócios possam ser desenvolvidos, deveria ser tese de doutorado.
Dentro de uma relação de amizade, nos permitimos ser, existir, inerentes a toda a crítica e discussões que os espaços públicos nos submetem. Dividimos anseios, propósitos, motivos e coragens, por que não os projetos que construímos?
Poderia listar todas as razões sociais e culturais que nos fizeram acreditar que com outras mulheres poderíamos ir mais longe. Quantas vezes ouvimos a frase: amigos, amigos, negócios à parte?
A frase “com quem fazer projeto de vida senão com amigos” também é de um post, sobre um texto escrito por Carmem Maria Gameiro, que além de falar do amor e do vínculo que dois seres humanos antes desconhecidos, passam a possuir a partir do momento que dividem e de como é difícil dividir. Se amigas somos por que ainda se tem tantos receios em, para além das afinidades, das crenças, das manias e das conexões, não podemos nos conciliar e nos tornamos parceiras?
Ainda seguimos individual.
Etimologia, gostamos e estou sentindo falta disso neste texto. Cá vamos de. A expressão latina “affectio societatis” significa literalmente sociedade de afeto.
Sim.
Afeto.
Cruzo por tantas e tantas mulheres que seguem paralelamente, e que, ao invés de esticar as mãos para se construírem juntas, seguem concentradas em si e com medo. Sinto que ainda nos reforçam a acreditar nas solidões. Ou pior, ainda vejo mulheres que preferem dar ouvidos ao tom grave de um cromossomo Y, por costume social.
Qual o tom da voz da tua razão?
Para discutir as cores de uma cortina, gostos por uma marca de iogurte, contar sobre um relacionamento malfadado, falar sobre o péssimo encontro com a mulher desejada, ligamos, mandamos e-mail, abusamos dos ouvidos das que dentro da arena estão conosco. Mas para discutir os orçamentos do nosso negócio, para dicas de gestão, para entender aquele investimento, para perguntar se agora é a hora de adquirir um novo equipamento para a empresa, para planejar um modelo de negócios, para convidar aquela amiga que segue prosperando no seu empreendimento a ser sua sócia, o que te impede, vivente?
Amigas nos ajudam a direcionar frustrações, compartilham escuta, acolhem dores, cobrem nossos corpos em sofás e dividem noites de insônia.
Em “All the single ladies : unmarried women and the rise of an independent nation”, Rebeca Traister elogia o papel sustentador das amizades femininas e sua crescente importância, que seguem não amplamente reconhecidas, destes relacionamentos primários, fundamentais que se formam entre mulheres, que desde a infância acontecem com pessoas que nos completam.
Números, sim, sempre trabalhamos com eles: “Calvert Impact Capital descobriu que empresas com maiores percentuais de mulheres em cargos de liderança tiveram resultados de vendas (Return on Sales – ROS) de 18,1% maior em comparação com empresas com menos mulheres em cargos de liderança. Em 2016, o Credit Suisse Research Institute analisou empresas onde as mulheres ocupavam 50% ou mais dos cargos de liderança e constatou que o crescimento das vendas, os lucros por ação e o retorno sobre os ativos eram todos maiores do que para a ampla gama de empresas, e que os níveis de dívida/capital próprio eram menores. Boston Consulting Group e MassChallenge descobriram que startups fundadas ou cofundadas por mulheres geraram 10% mais receita do que startups fundadas por homens durante um período de cinco anos.” Boa essa lista de dados, agradeço e cito a pesquisadora Jessica Rios, que juntamente com Luana Ozemela e Alex Martins apresenta argumentos estratégicos sobre o investir, a partir de uma perspectiva de futuro diverso.
Com argumentos, com dados, olhe ao seu redor, na arena da sua vida, ao seu lado, quem contigo caminha, mulher?
Chris Baladão, bicho raro, formada e por coração advogada, na época em que o curso levava sociais em seu nome, escritora por necessidade de expor a palavra, bailarina porque o corpo exige, professora porque a experiência da vida precisa ser compartilhada.