O Amyr Klink esteve recentemente palestrando num evento em Porto Alegre. Uma fala sua que repercutiu foi que as melhorias na orla do Guaíba ainda são uma espécie de perfumaria. Nenhum dos projetos executados até então trata da questão da água.
O navegador destacou a riqueza do nosso estado no quesito hídrico. Podemos seguir, da capital, Rio Grande do Sul adentro navegando. Desperdiçamos essa vantagem geográfica que a natureza nos deu. Poluímos nossas águas e não investimos em transporte de embarcações.
Alguns gaúchos têm falado ao longo do tempo sobre isso. Mas o debate interno tem pouco andamento. A solução das últimas administrações para a capital tem sido urbanizar o entorno do Guaíba, muitas vezes trocando o custo dessa urbanização por terrenos valiosos com a iniciativa privada. No entanto, mesmo nesse modelo, não ocorre aos gestores propor a troca pelo custeio da recuperação da balneabilidade do nosso lago.
É mais caro? Mas quanto realmente vale toda a área urbana já negociada? Além disso, como marca, nenhuma empresa gostaria de ter seu nome ligado a um feito como esse?
A balneabilidade do Guaíba mudaria, em termos de lazer e de turismo, a face de Porto Alegre. Alteraria, inclusive, nosso jeito de ser. A água relaxa, traz saúde com exercício físico, expõe os corpos ao sol. Mais gente de fora teria motivo para tirar férias aqui.
Na minha infância, íamos a Belém Novo tomar banho no Guaíba. Levávamos, no nosso Austin, uma câmera de pneu de caminhão para usar como boia. Lembro da vegetação nos nossos pés, por debaixo da água. Só mais tarde passei a ir para o nosso litoral. O mar não fazia falta com as praias que tínhamos na cidade.
Outra atração era ir ao cais do porto visitar algum grande navio que estivesse ancorado. Vivíamos num local portuário e com praia.
Com o tempo, a poluição tomou conta do Guaíba. Seja por ser usado como o esgoto da cidade, pela ação nociva das indústrias, pelos resíduos dos curtumes, acabamos perdendo e dando as costas para o nosso rio, que depois ganhou o antipático nome de estuário e, por fim, a insossa denominação de lago.
O que tem se chamado de revitalização da orla poderia evoluir para a recuperação do Guaíba. Quem vai levar adiante essa causa?
Foto da Capa: reprodução do Youtube / Programa Frente a Frente / TVE/RS