Analfabeto é quem desconhece o alfabeto, quem não sabe ler nem escrever. A Unesco passou a utilizar o conceito de “analfabeto funcional” para os que sabem ler e escrever, mas são incapazes de compreender um texto simples e fazer operações matemáticas. Eu tenho percebido sinais do surgimento de um novo tipo de analfabetismo, que é a dificuldade de se comunicar com a juventude e de usar tecnologias, o que estou chamando de “analfabetismo contemporâneo”.
Assim como os analfabetos funcionais, que se comunicam com outras pessoas, mas não conseguem compreender coisas básicas, os analfabetos contemporâneos são as pessoas de diferentes faixas etárias, com ou sem curso superior, que ao se comunicarem com crianças e adolescentes, não compreendem boa parte do que eles dizem, bem como não conseguem fazer uso das tecnologias e das redes sociais. Eu explico: conversando com uma pessoa na faixa etária dos 60 anos, ela me disse que adora visitar os netos, mas que não fica mais do que dois dias com eles, pois não entende a maior parte das conversas deles e eles não se interessam pelo que ela fala. Sentiu ser uma avó obsoleta!
Tem professores em escolas e universidades dizendo que estão falando para as paredes, pois os alunos não se interessam pelos temas abordados e não despregam os olhos dos celulares. A capacidade de comunicação está tão ruim que parece que esses professores desconhecem o alfabeto utilizado pelos alunos e falam uma língua que eles não entendem. Como se dizia antigamente: “estão falando grego”!
O uso da internet, que seria para “conectar pessoas”, está excluindo uma camada da população que faz um uso muito limitado dos seus recursos. A todo momento surgem novas plataformas, aplicativos e recursos que facilitam a vida de uns e dificultam a de outros. Até mesmo pessoas com nível superior já estão precisando de ajuda em locais que precisam usar QR Code para acessar o cardápio, baixar aplicativo para marcar uma consulta médica, fazer compras pela internet, falar com máquinas etc. Um professor renomado foi convidado para fazer uma palestra on-line. A palestra foi divulgada e atraiu o interesse de uma grande plateia na Web. Quando chegou a hora, o palestrante não conseguiu palestrar por não saber acessar a plataforma.
Um bom teste para saber como está a sua “alfabetização contemporânea” é ouvir a conversa de crianças ou adolescentes e analisar o quanto você entendeu do que eles disseram. Se você tem dificuldades para usar os recursos tecnológicos no cotidiano e se sente um dependente tecnológico que está a caminho de um “apagão digital”, busque ajuda. Assim como o médico e o psicólogo ajudam a manter o seu corpo e a mente saudáveis, existem pessoas especializadas que podem lhe ajudar a desenvolver as habilidades necessárias para você se manter “saudável digitalmente”. Não desista de usar as novas tecnologias e tampouco crie dependência do sobrinho, dos filhos ou dos netos. Conviva com pessoas de todas as faixas etárias e esteja sempre atualizado. Certamente, algum dia você se tornará um analfabeto contemporâneo, mas que este dia demore mais tempo possível para chegar. Não jogue a toalha antes do tempo!