A profissão médica é, talvez, a única que exige, no momento da formatura, um ritual próprio e altamente simbólico, que é o Juramento Hipocrático: na verdade, uma “deontologia” (do grego “aquilo que deve ser”), uma ética profissional. Aliás, duas atitudes morais baseadas apenas na palavra dita eram fundamentais para os gregos: o PERDÃO, o gesto expresso em palavras em que a vítima liberta seu algoz (ou aquele que lhe provocou um dano) do peso moral de sua ação, em que o prejudicado se coloca acima de quem o prejudicou, dando-lhe a chance de recomeçar e continuar a vida sem remorso: o perdão nos liberta do passado! O outro ato, também assentado na palavra dita, é o da PROMESSA: a tentativa de evitar o imprevisível do que ainda virá. Se o perdão diz respeito às ações passadas, a promessa (mas também o juramento) se refere a ações futuras (“eu juro que, apesar dos imprevistos da vida, eu agirei como estou te prometendo neste momento”). Eu não fiz nenhum “juramento” deontológico no dia de minha formatura como PROFESSOR (à exceção do protocolar respeito às Leis da República), mas passado o Dia do Professor e, diante dos ataques e humilhações que estamos sofrendo, eu proponho um humilde JURAMENTO. Ei-lo:
Diante de meus Mestres, e tendo escolhido livremente esta profissão, eu juro que dignificarei Seus nomes e Suas memórias, conduzindo minhas ações educativas com a consciência e a moralidade que eles depositaram em mim;
Que comparecerei ao encontro pedagógico disposto a ensinar e a aprender numa relação de mútuo entendimento e de compreensão do mundo;
Que pronunciarei e honrarei a palavra e as ideias daqueles que me antecederam e que ajudaram, com sua sensibilidade e razão, a melhor compreender a condição humana;
Que ouvirei meus educandos em suas angústias e necessidades, e tentarei ajudá-los a compreender e enfrentar seus desafios;
Que estarei atento ao meu tempo e suas necessidades, mas não sucumbirei às seduções de modas efêmeras e superficiais;
Que reconheço que a condição de professor é aquela que permite aos meus educandos encontrar um lugar entre os homens/mulheres e, entre eles(as), com eles(as) e por eles(as) conduzirem uma vida honrada;
Que tenho alta ciência de que, sem meus educandos, a minha palavra pedagógica se projeta no vazio e eu não poderei cumprir o juramento que aqui registro;
Que exercerei esta profissão com cuidado e dignidade até o fim, enquanto consciência e saúde me habitarem e enquanto fizer parte da comunidade humana;
Que Palas Athena (a Sabedoria) me ajude a cumprir este juramento.
Foto da Capa: Estátua de Pallas Atena em frente ao Parlamento Austríaco / Wikimedia Commons
Todos os textos de Flávio Brayner estão AQUI.