A primeira pesquisa do Datafolha para a eleição presidencial em segundo turno já chegou com números que prometiam acirrar ainda mais os ânimos e as diferenças dos dois candidatos. Confirmava a liderança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas divergia em relação aos percentuais, ainda que no limite da margem de erro a maioria dos institutos acabe coincidindo. Na consideração dos votos válidos, como se dá apuração, sem contar brancos e nulos, Lula teria 53% das intenções de voto e Jair Bolsonaro (PL), 47%. Vantagem de seis pontos. Já na pesquisa Ipec/Globo, divulgada ontem à noite, a distância é ainda maior: 55% para Lula e 45% dos votos válidos para Bolsonaro. 10% de diferença.
Comparando-se ao resultado do primeiro turno, considerando-se apenas a pesquisa Datafolha, cada um herdou um pouco dos votos dos concorrentes que ficaram para trás. Nas urnas, Lula recebeu 48,43% dos votos válidos (57.259.504). Bolsonaro fez 43,2% (51.072.345). A vantagem do ex-presidente sobre o segundo colocado era de 5,23 pontos. Se a pesquisa estiver certa, não levando em conta a margem de erro, entre domingo (2) e o término do levantamento, Lula cresceu 4,57 pontos e Bolsonaro, 3,8 pontos.
Nas projeções de migração de votos de Simone Tebet (MDB) e de Ciro Gomes (PDT), os principais institutos de pesquisa do país mostram quantos votos devem ir para Lula e para Bolsonaro no segundo turno. O levantamento da Genial/Quaest aponta um cenário contrário ao desenhado pelo Datafolha, contudo. Isso torna ainda mais incerto o nível de transferência de votos dos candidatos que ficaram em terceiro nível de transferência de votos dos candidatos que ficaram em terceiro e quarto lugar na disputa.
Considerando que Ciro Gomes teve aproximadamente 3,5 milhões de votos, Bolsonaro herdaria cerca de 1,3 milhão de votos e Lula herdaria 910 mil. Simone Tebet teve cerca de 4,9 milhões de votos. Pela Genial/Quaest, Bolsonaro teria 1,4 milhão dos votos da senadora e Lula herdaria 1,2 milhão.
Em relação a Tebet, o Datafolha aponta que Lula recebe 31% dos votos da senadora ou 1,5 milhão de votos e outros 29% migram para Bolsonaro, equivalente a 1,4 milhão de pessoas. Isso significa que, para o Datafolha, a maior parte dos eleitores de Ciro migra para Bolsonaro e a maior parte dos votos de Simone vai para Lula.
Ainda assim, a conta deixa o cenário do segundo turno ainda mais confuso e mostra que essa migração de votos, que pode definir a eleição, ainda está em andamento. Muitos eleitores de Ciro e Tebet podem estar apenas observando as campanhas para tomar a decisão às vésperas do dia 30 de outubro. As estratégicas agora jogam em duras críticas aos adversários e no convencimento desta parcela de eleitores.
A surpresa dos Republicanos no RS
O que os deputados federal e estadual mais votado, além de um senador eleito pelo Rio Grande do Sul, neste ano, têm em comum? Mais do que apenas a posição política, o tenente-coronel Luciano Zucco, o advogado e jornalista Gustavo Victorino e o general Hamilton Mourão são do mesmo partido: Republicanos.
Defensores do conservadorismo nos costumes e do liberalismo na economia, a sigla vem crescendo a cada eleição. Além da cadeira de senador, para Hamilton Mourão, conquista o mais votado para à Câmara, com Zucco, e também para a Assembleia, com Vitorino. Além dos mais votados, aumentou o número de parlamentares eleitos no RS e no Brasil. A colocação nacional mostra um salto de 30 deputados federais para 41 e de 42 deputados estaduais ou distritais para 72. Junto com Mourão, trouxe a ex-ministra Damares Alves para o Senado pelo Distrito Federal.
Reeleito, o deputado federal Carlos Gomes presidente estadual do partido, nota o “crescimento contínuo” da sigla.
– Somos conservadores, continua ele, e no Rio Grande do Sul temos um campo fértil de pessoas que pensam como nós. Alcançamos os números que havíamos projetado, com três deputados federais e cinco estaduais. É um crescimento substancial, uma representatividade muito importante. Agora é transformar tudo isso em trabalho — avalia o reeleito.
O Republicanos não é o antigo Partido da República (PR), que virou Partido Liberal (PL), que tem como principal nome o presidente Jair Bolsonaro, além de oferecer Onyx Lorenzoni no segundo turno da eleição para o Governo gaúcho. O Republicanos é o antigo Partido Republicano Brasileiro (PRB), que antes chegou a se chamar Partido Municipalista Renovador (PMR), que teve como presidente de honra o ex-vice de Lula na presidência da República, José Alencar. O Republicanos, antes acomodar-se à direita, perambulou pela esquerda e centro-esquerda.
O destino dos nanicos fora da cláusula de barreira
Cinco dos seis partidos que não atingiram a chamada cláusula de barreira nas eleições de 2022 negociam fusão para sobreviver no Congresso. Sem rumo certo, PTB, PSC, Patriota, PROS, Novo e Solidariedade já discutem seu futuro em conjunto. Em jogo está a continuidade de siglas que se tornaram nanicas na nova realidade do Congresso.
A regra da cláusula de barreira, instituída pela reforma eleitoral de 2017, não extingue os partidos por completo, mas busca reduzir a multiplicação partidária pela asfixia financeira e institucional dos nanicos. No ano passado, as seis legendas receberam recursos do fundo partidário em R$ 126 milhões. Mas não ganharão nada em 2023, são excluídas.
Para não perder os recursos do fundo partidário e o tempo de propaganda, os partidos devem eleger pelo menos 11 deputados federais distribuídos por nove unidades da Federação, como determina a cláusula de barreira. A alternativa é que atinjam 2% dos votos válidos para a Câmara em pelo menos nove Estados, sendo 1% em cada. Se não houver uma fusão, a extinção ocorrerá em breve.
Há articulação, desencadeada logos após os resultados do primeiro turno, com o objetivo de formar um partido sem perfil ideológico claro. Segundo dirigentes, é possível que mais de uma legenda surja das negociações.
Diferenças ideológicas há. PTB, PSC, Patriota, PROS e Solidariedade fizeram opções divergentes nas eleições para presidente.
Na direita, PTB, PSC e Patriota orbitam em torno do Planalto e da candidatura de Jair Bolsonaro (PL). Na outra ponta, o PROS e o Solidariedade apoiam a aliança de esquerda que sustenta a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). E o Novo surgiu com candidato próprio. O presidente do Solidariedade, deputado Paulinho da Força (SP), já conversa com o PROS e o Patriota para formação de uma só legenda.