Jornalista, escritor, locutor esportivo, redator de programas humorísticos, compositor, Antônio Maria foi múltiplo em múltiplas atividades. Foi também um dos casos em que a vida foi maior do que a obra – e isso não é pouco se comparado à produção tão talentosa e prolífica. Em sua vida, Maria se divertiu muito, bebeu muito, comeu muito, cantou e amou bastante. A intensidade de tantos sentimentos cobrou seu preço e Maria morreu com apenas 43 anos.
Compositor admirado pelos compositores (afinal é autor de um dos maiores standards brasileiros de todos os tempos, Manhã de Carnaval, com mais de 150 gravações nos Estados Unidos e 200 na Europa), cronista respeitado pelos cronistas (foi contemporâneo de Rubem Braga, Carlinhos Oliveira e Fernando Sabino), Maria continua a ser lembrado quase seis décadas depois de sua morte.
Pernambucano do Recife, onde nasceu a 17 de março de 1921, Antônio Maria de Araújo Morais começou a trabalhar ainda adolescente na Rádio Clube de Pernambuco. Lá conheceu os radialistas Fernando Lobo e Abelardo Barbosa, com quem viajaria para o Rio em 1939. O primeiro se destacaria como compositor, autor de sucessos como Chuvas de Verão. O outro, seria um dos maiores nomes do showbiz brasileiro ao inventar novas formas de transmissão de eventos populares e ao adotar a alcunha que o tornaria famoso: Chacrinha. Só Maria não teria sucesso na primeira empreitada carioca, retornando ao Recife e só voltando ao Rio em 1948 a convite de Assis Chateaubriand. Aí definitivamente.
Pelos 16 anos seguintes, Maria fez de tudo um pouco. E tudo de forma exagerada. Dirigiu o departamento de produção da Rádio Tupi, foi o primeiro diretor da primeira emissora de televisão instalada no Brasil, a TV Tupi do Rio, compôs clássicos como Ninguém me Ama e Frevo n° 1 do Recife, e atuou como cronista em diversos jornais e revistas, entre os quais Diário Carioca, O Globo e Manchete. O auge seria na Última Hora, quando consolidou sua prosa ao mesmo tempo amarga e gozadora. Nessa época, ainda arranjava tempo para fazer a ronda dos bares do Leme, Copacabana e Ipanema só cansando das noitadas quando se apaixonou por Danuza Leão, mulher de Samuel Wainer, seu patrão.
Também foi intenso o seu (curto) affair com Danuza e as idas e vindas no conturbado relacionamento deixaram sua saúde ainda mais debilitada. Quando Danuza o abandonou, para voltar para Samuel, Maria entrou em depressão. Teve dois enfartes, o segundo deles fatal, em 15 de outubro de 1964. Uma morte que pode até ter surpreendido alguns, não ele que havia escrito: “Com vocês, por mais incrível que pareça, Antônio Maria, brasileiro, cansado, 43 anos, cardisplicente (isto é: desdenha o próprio coração). Profissão: esperança”.