No ano passado, foi o desfile de tanques e equipamento militar na Esplanada dos Ministérios. Bolsonaro tentava mandar um recado sobre a ameaça das urnas eletrônicas e sua articulação militar, influente sobre a tropa. Neste ano, pretende beneficiar-se política e eleitoralmente com a parada naval neste Sete de Setembro, nos festejos do bicentenário da Independência do Brasil.
A parada sairá do mar à frente ao Recreio dos Bandeirantes e irá até o Leme. No seu trecho final, em Copacabana, haverá o palanque criado por Bolsonaro para substituir o tradicional desfile cívico-militar do feriado da Independência no centro da cidade. Ao desfile, deve se somar o submarino Riachuelo, recém estreando as operações após convênio técnico e financeiro com a França.
Os Estados Unidos já comunicaram que não estarão no desfile, embora seja deles a coordenação militar do tradicional exercício multinacional da Unitas, do qual Bolsonaro busca protagonismo para apoio às suas repetidas teses golpistas. Outros vinte países estarão presentes com suas forças navais. Os Estados Unidos deslocarão quatro navios para o Brasil – só para o exercício, não para o desfile.
O Unitas é realizado desde 1959. É focado na América e é o mais longevo exercício deste tipo no mundo. É focado nas Américas, mas tem convidados de longe, como Reino Unido, Espanha, Coreia do Sul e Namíbia, neste ano. O Brasil já havia sido escolhido antes de Bolsonaro ser eleito para sediar a edição deste ano, justamente para coincidir com os festejos do Bicentenário.
O exercício se dá em águas de cada país participante. Busca treinar, capacitar, cooperar e estabelecer vínculos de confiança entre as armadas da região. A cada ano, variam-se as sedes entre os vários países. Desde 1999, o exercício divide-se em três fases: Atlântico, Pacífico e Caraíbas.
A simulação de ataques envolve cerca de vinte navios e submarinos envolvidos no jogo de guerra. Nesta edição, são esperados 5.500 militares, de 10 a 22 de setembro. A cerimônia de abertura será um pouco antes, no dia 7, com a parada naval. Até a semana passada, 11 dos 22 participantes haviam informado à Marinha que poderão participar do evento.
Ainda não se sabe o tamanho da parada, que será liderada pelo Cisne Branco, veleiro usado como símbolo diplomático e de relações públicas da Marinha e nau-capitânia brasileira, junto ao porta-helicópteros multipropósito Atlântico. Além das manobras em água, eventos paralelos ocorrerão na área portuária do Rio de Janeiro: vai incluir intercâmbios culturais, eventos esportivos e projetos comunitários, além de visitação a navios de guerra atracados. A Embaixada dos Estados Unidos confirma a participação no evento, mas mantém tom diplomático em suas afirmações. As nações parceiras da Unitas-2022 poderão participar dos eventos do bicentenário brasileiro, como seu Desfile Naval.