Tenho analisado a vida dos meus colegas que se aposentaram recentemente e fico preocupado, pois estão todos ocupadíssimos, fazendo mil coisas, sem tempo para tomar um café com os amigos. Estou pensando em aproveitar bem este tempo de labuta que me resta, pois estou vendo que quando chegar a aposentadoria não será fácil!
Antigamente o INSS fazia prova de vida para saber se os aposentados não tinham morrido, agora isto se tornou desnecessário, esta gente que está se aposentando está mais viva do que nunca. Eles estão nas redes sociais, nas academias de ginástica, fazendo yoga, meditando, escrevendo livros, fazendo cursos de língua, curso de cerâmica, curso de tudo que é coisa, aprendendo a tocar um novo instrumento, cantando em coral, envolvidos em projetos sociais, viajando pelo mundo, fazendo o caminho de Santiago… é tanta coisa que me deixa cansado só de imaginar. Um amigo me disse que resolveu vender o seu sítio porque depois que se aposentou não teve mais tempo de cuidar dele, isto que ele havia comprado o sítio pensando em aproveitá-lo na aposentadoria.
Lembro do tempo que se associava aposentadoria com “vestir o pijama”. É verdade que muitos homens se aposentavam e ficavam em casa atrapalhando a rotina da casa, querendo dar pitacos no que seria servido no almoço, assumiam o controle da TV e escolhiam os programas da sessão da tarde, o que resultava em brigas com as mulheres. Homem aposentado em casa acabava com a tranquilidade das esposas que eram donas de casa ou que já haviam se aposentado.
Percebo também que alguns aposentados de hoje estão se dedicando a cuidar os netos e aliviar a vida dos filhos. Tem os que adotam pets e os tornam membros da família. Os aposentados que têm pais vivos, dedicam boa parte do seu tempo para os cuidados destes idosos. Parece que o “cuidar” é uma necessidade dos humanos, em especial dos aposentados.
Por um lado, tem os que não demoram cinco minutos para se acostumar e para curtir a vida de aposentado. Por outro, a aposentadoria vira um transtorno, levando algumas pessoas a ter que cozinhar, limpar a casa e fazer outras atividades que elas não faziam quando estavam empregadas. Para muitos, a aposentadoria significa uma redução dos ganhos e uma queda de qualidade de vida. Aposentar significa perder o contato com os colegas de trabalho, e para alguns, este era o seu único contato social. Esta mudança abrupta causa impactos psicológicos. O trabalho, por mais estressante que seja, tem uma função social na vida das pessoas, há quem se apresente dizendo o nome e a profissão, como se a profissão fosse o seu sobrenome. Depois de aposentados, dizer que “fui tal profissão” não significa muito, o aposentado não é valorizado pelo mercado. Lembro de um colega que era professor e um conceituado consultor de empresas. Ele dizia que ao se aposentar teria mais tempo para se dedicar para suas consultorias, mas não foi o que aconteceu, quando ele “saiu da vitrine”, o mercado o esqueceu.
A aposentadoria tem data marcada, mas quando chega a hora se leva um choque, se tem a impressão de que ela apareceu de surpresa. A preparação não ocorre na véspera, é preciso iniciar muito antes, quando ainda temos tempo para fazer uma poupança e para planejar como será a vida o dia que não tivermos mais uma rotina, quando o despertador não tocar mais de manhã cedo. Na UFRGS, existe o “Programa de Educação para a Aposentadoria” que visa dar um suporte aos atuais e futuros aposentados.
Os aposentados que se mantém ativos, seja assumindo novas responsabilidades profissionais, se ocupando com hobbies, cuidando de netos ou dos pais, fazendo atividades físicas e cuidando da sua saúde mental, viajando etc., estes terão boa qualidade no terço final da vida. Me parece que a vida saudável está entre a sedentária, dos que “vestem o pijama”, e a dos que vivem ocupadíssimos querendo fazer o que não fizeram ao longo da sua existência. Precisamos todos de uma constante atualização da nossa autopercepção ao longo da vida. Nossas condições vão mudando, o físico e o emocional vão se alterando, as relações se modificam, mas se soubermos explorar o que temos de melhor em cada etapa, poderemos ser felizes por mais tempo.
Carl Rogers: “A vida boa é um processo, não um estado. É uma direção, não um destino.