Na sociedade “globalizada” (Bauman, 2007; Sander, 1978), os pressupostos epistemológicos (Nunes, 1989) que orientam as tomadas de decisão ‘ao nível’ da perspectiva gerencial, perpassando a educação (Paiva, 1997), visam à consecução de um novo patamar de gestão partilhada envolvendo os protagonistas (Boal, 2009) da ação encetada. Ora (Paulo VI, 1987), tal ação visa um objetivo que deverá estar compreendido na própria ação, e aqui, a perspectiva dialética introduz um elemento novo: a novidade.
Destarte, uma educação socialmente referenciada deve tomar como pressuposto epistêmico a noção freireana (Freire, 1997) de ser-mais, que não é o contrário de ser-menos. Muito pelo contrário: aqui, a perspectiva dialógica e problematizadora mostra que entre o ser-mais e o ser-menos, do ponto de vista da intencionalidade dos protagonistas, encontra-se um ser-mais-ou-menos que corrobora o adágio aristotélico sobejamente conhecido (In medium virtus). Isto indica, muito claramente, que o modelo está falido (Sarney, 2006), gerando gargalos e afunilamentos que desvelam os interesses de classe ideologicamente interessados (Marx, 1967) e voltados para uma práxis de dominação. A perspectiva da libertação comparece, aqui, ao nível de uma pedagogia emancipatória, como algo não apenas desejável, mas inscrito na própria dinâmica da ação protagonizada pelos protagonistas, cujo protagonismo deve ser medido pela própria dinâmica da ação.
Ora, faz-se necessário a adoção de uma perspectiva de conscientização ao nível dos agentes envolvidos na trama epistêmica acima detalhada: anunciar e denunciar (Freire, 1998) os interesses da dominação voltados, antes de tudo, para a dominação dos dominados que, na perspectiva situada ao nível da consciência de si, ainda não atingiram o nível epistêmico exigido pelo contexto sócio-econômico-cultural em que se inserem. O que exige dos educadores engajados numa perspectiva ‘ao nível’ da libertação, um nível de consciência de si e dos outros capaz de perceber na alteridade a construção de uma perspectiva ao nível de uma estética da existência (Foucault, 1982), esta sim, voltada para formas de libertação dialeticamente conduzidas e ancoradas na práxis: ação e reflexão sobre a ação, mesmo aquela ação que nunca foi acionada pelos agentes engajados num projeto histórico de corte dialético/analético (Freire, 1985) voltado para uma “vontade de poder” (Nietzsche, 1976).
Neste sentido, as políticas públicas (Azevedo, 1997) encetadas pelas gestões ditas “populares” mostraram, ao nível da perspectiva pedagógica, a antítese do processo dialético encetado: a consciência ingênua em trânsito para a consciência crítica demonstra que os excluídos, na própria perspectiva adotada pelas representações sociais (Moscovici, 1961) dos incluídos, não aceitam a dinâmica inclusão-exclusão tão cara aos defensores de uma perspectiva baseada naquilo que Wittgenstein chamou de “jogos de linguagem” (Witgenstein, 1997), em que o resultado do jogo só é conhecido quando o jogo termina.
Em conclusão, podemos afirmar que, na perspectiva dialética calcada numa Weltanschaüng materialista, a perspectiva da libertação, em seus limites e possibilidades, demonstra que a globalização é, de fato, um processo global e como tal deve ser compreendido.
PS: Pirandello dizia que “quando um autor precisa explicar a sua obra ao público, um dos dois é idiota”. Mas você não acha, leitor, que o clichê é a derrota do pensamento?
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