Ele nos deixou no último dia de fevereiro de 2024. Experiente jornalista, Helio Costa Nogueira da Gama teve passagens importantes pela revista Veja, Editora Expansão, Gazeta Mercantil, revista IstoÉ, Estadão, A Gazeta e JC. Desenvolveu sua vida profissional entre São Paulo e Porto Alegre durante 50 anos. Já o inquieto ser humano Helio Gama, reconhecido como competente e criativo jornalista, carregou dentro de si o menino travesso capaz de fugir da escola para ver filmes de aventura. No tempo ocioso, era voraz leitor de livros sobre o mesmo tema.
Antes do adeus, Helio pôde ver impresso seu livro chamado As Aventuras de Jordão Ramalho. Para tanto, se apoiou na história oficial, lá entre 1555 e 1559, cercou personalidades conhecidas de narrativas paralelas criadas por sua inquieta imaginação. Em alguns pontos a descrição de momentos tensos, em meio a terras desconhecidas pelo grupo aventureiro, ganha tintas semelhantes ao visto no cinema ou em livros. Despejou nessas páginas momentos trepidantes, dignos de um filme que apreciaria ter estrelado.
Todo o enredo mostra a ação de personagens reais e fictícios envolvidos em acontecimentos igualmente reais e fictícios. Estão presentes indígenas (guaianaz, guarani, carijó, kaingang, charrua, temiminó e tamoio); europeus (portugueses, franceses, ingleses e espanhóis) e africanos. O centro das histórias é a Capitania de São Vicente, e os principais fatos ocorrem ali, no sul da colônia, ultrapassando os limites do Tratado de Tordesilhas, e em Portugal. Relata a criação de São Paulo, Santos e seu porto, a instalação dos jesuítas, o nascimento de Santo André e a visão da magnífica paisagem do sul do Brasil (onde ocorre o suspense do embate com os espanhóis). E é neste ambiente que ele registra a aproximação dos lusitanos com indígenas e o surgimento dos brasileiros.
Personagens conhecidos têm destaque nas histórias: João e Jordão Ramalho, Tibiriçá e Bartira, os jesuítas Anchieta e Manuel da Nóbrega. Destacam-se, ainda, Araribóia, Brás Cubas e o rei Dom João III.
Na nota de abertura, ele conta os motivos de sua escolha que lhe custou uma pesquisa detalhada sobre a história de um país que nem era um país: “Por dever de ofício acompanhei a economia no Brasil na segunda metade do século XX. Sempre me intrigou o fato de o país não ocupar posição relevante no mundo. Por isso, comecei a imaginar a possibilidade de mergulhar na ficção histórica em busca de uma segunda chance para os brasileiros. A curiosidade me levou a contar uma nova história do Brasil a partir de seu início.”
Por isso, Helio executou um trabalho ficcional raro em nossa literatura, contando o que poderia ter acontecido no início da colonização. Pois bem, não sendo impossível que tudo tivesse acontecido, por que recontar? A resposta é simples: ao utilizar a arma encantada da ficção, mostrou que colonos e colonizadores conseguiram formar um só povo, compartilhando valores e virtudes humanas com a mesma disposição.
Mario de Santi, jornalista, escritor, nascido no Paraná, meio paulista, meio gaúcho. Andou pela Veja, Gazeta Mercantil e Estadão por 30 anos. Agora escreve por conta e cuida de netos.
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