Sabe aquela música linda do Hyldon, “As dores do mundo”? Ele contou numa entrevista, no podcast Papo com Clê, no Youtube, que é uma resposta ao livro do filósofo alemão do século XIX, Schopenhauer (foto da capa).
Hyldon, assim como Cassiano e Tim Maia, é um dos grandes nomes da soul music brasileira. Seu primeiro sucesso foi “Na rua, na chuva, na fazenda”. A música foi lançada em 1975, e todo mundo sabe cantar até hoje.
O compacto, que era um vinil menor, servia para fazer o primeiro teste com o novo repertório de um artista. Poderia ser simples, com uma música de cada lado, ou duplo, com duas de cada. Se vendesse bem, era comum vir em seguida o long play, que trazia o resto das canções.
O compacto de Hyldon teve uma estupenda vendagem. A música dele tomou conta das rádios brasileiras. A gravadora Polydor, onde ele também trabalhava como produtor, demorou, contudo, para lançar o álbum completo.
O diretor André Midani, que acertou em cheio na condução do trabalho de vários outros artistas, propôs que Hyldon dividisse seu disco com regravações de músicas em inglês, como “Angie” dos Stones, por exemplo. O artista não quis, tendo o impasse retardado a produção. Ao final, tudo saiu como Hyldon queria.
No disco, vieram outros sucessos como “Na sombra de uma árvore”, “Vamos passear de bicicleta”, “Acontecimento” e “As dores do mundo”. Como um recado para o Midani, o compositor e cantor enviou um livro do escritor alemão Ernst Fischer (1899 – 1972), A necessidade da arte. O subtexto do presente era que, em primeiro lugar, vem a criação do artista, depois o marketing. O papel de Midani e da gravadora deveria ser pensar como trabalhar no mercado a obra e não querer, antes do artista, dizer como ela deveria ser.
A literatura alemã também inspirou a canção “As dores do mundo”. Esse é o título não só da canção de Hyldon, mas de um livro do filósofo Arthur Schopenhauer (1778 – 1860). A leitura foi indicada por um amigo também músico. Hyldon achou a visão do filósofo muito pessimista quanto às questões afetivas e até desacreditando no amor.
Então o compositor resolveu cantar o amor, o encontro, a celebração de achar uma pessoa para amar e colocou como refrão “e eu vou esquecer de tudo/das dores do mundo/não quero saber quem fui/mas sim o que sou//e vou esquecer de tudo/das dores do mundo/só quero saber do seu/do nosso amor”.
Compôs essa parte olhando para o livro e dizendo essas palavras para Schopenhauer, mesmo que ele não tivesse como estar ali para ouvir.