Vou aqui contar uma história que aconteceu há muito tempo, mas que de certa forma fez com que hoje eu goste tanto de expressar sentimentos em pequenos contos.
Desde pequena, escrever sempre foi uma coisa que me dava imensa alegria e, por ironia do destino, o responsável por uma das minhas maiores decepções foi um grande poeta.
Não tenho muita certeza, mas acho que tinha uns nove ou dez anos quando – cheia de esperanças – sentei, peguei uma das folhas da minha coleção de papel de carta, tomei coragem e escrevi uma carta para este tal poeta que eu tanto admirava.
Perto da casa onde morávamos tinha uma agência dos correios. O endereço do destinatário foi aquele que encontrei em um dos livros da prateleira. Buscava respostas para meu encantamento pelas letras nos escritos dele.
“Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.”
Coisa boa é ser criança. Sem medos, sem censura. Para mim, éramos iguais. Eu já tinha meu “livro raro” e, orgulhosa, só queria dividir minha conquista com quem tinha o dom de desencantar palavras. Esperei dias, semanas, meses, por uma resposta que jamais chegou.
Nunca vou saber se leu ou não minha cartinha, ou se leu e não deu importância. Ah, se ele soubesse como aquilo era importante pra mim…
Tinha acabado de escrever o meu primeiro livro: Memórias de um Quadro Negro. Lembro bem que chegava em casa depois das aulas, sentava, escrevia e ilustrava as páginas do meu caderno, cheia de entusiasmo antes de fazer as tarefas. Era meu projeto secreto, e eu decidi revelar ao poeta, quando mandei aquela cartinha.
O livro se perdeu no tempo, esquecido dentro de uma gaveta qualquer, enquanto eu, dia após dia, abria a caixa de correio.
Volta e meia me lembro desse episódio. Porém, com o passar dos anos, entendi que a minha vontade de realizar alguma coisa não deveria nunca estar condicionada à aprovação de ninguém.
“Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.”
Obrigada, Carlos Drummond de Andrade, pela lição de vida que me deu, mesmo sem nunca ter sabido.
Se pudesse, eu te diria: Olha, continuo escrevendo! Afinal, fui eu que criei a expectativa, você sempre foi Poeta.
” Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.”
As citações neste texto são do poema A Palavra Mágica, de Carlos Drummond de Andrade, que com seu lirismo e ritmo, encantou, encanta e encantará todos aqueles que buscam refúgio nas palavras.
Com amor e gratidão,
Pat Storni
Foto da Capa: Freepik