Das anunciadas revoluções recentes que a tecnologia digital trouxe, e aqui penso em três delas, blockchain, metaverso e inteligência artificial, essa última é a que mais tem me impressionado. Não vou aqui, e nem teria como, fazer um tratado sobre essas tecnologias, mas relatar um pouco de como elas vêm chegando até mim e ao ambiente em que trabalho.
Seja como escritor, músico, professor de literatura ou publicitário, sim, tenho essas quatro profissões, essas tecnologias contemporâneas se colocam na minha vida.
Como escritor ou como músico, a questão das NTFS e o direito autoral já ocupou minhas reflexões. Assisti a uma palestra do músico e sócio de uma empresa que estava comprando direitos autorais, por exemplo, da família de um compositor falecido, e transformado os valores a lucrar em NFTS.
Negociavam também com artistas vivos. Não tinham feito experiências ainda com ativos de escritores, mas vale a mesma lógica de negócios. É feita uma avaliação de quanto as obras poderiam render ao longo de um tempo determinado, dez, vinte anos, e o valor é pago ao autor. Os novos detentores dos direitos para o período assinado no contrato tratariam de fazer o trabalho de marketing das obras para que valorizassem e virassem ativos digitais atraentes para investidores. Não ouvi mais falar desse assunto, mas creio que os negócios devam seguir acontecendo.
Também, como um relato da minha inabilidade para investimentos, comprei para testar duas faladas moedas digitais. Investi duzentos reais. Hoje tenho cinquenta e um.
O metaverso, depois que o Facebook reavivou essa ideia já conhecida, alçando-a, inclusive, a nome da empresa, pareceu decolar. Mas, na prática, além de uma ou outra experiência, no meu caso de criador publicitário, não afetou, ou afetou e eu não percebi, a minha vida.
Agora o frisson é a inteligência artificial. Essa realmente vejo com grande potencial de rapidamente descer para o nível da vida cotidiana. No nível mais básico, pode ombrear e até quem sabe substituir a pesquisa no Google. É um processo que traz a informação pedida, no caso do Chat GPT, já em estado bem avançado, facilitando mesmo a vida de quem está atrás dos dados. Vem tudo já ordenado e redigido. A questão, com o estágio atual dessa tecnologia, é verificar se não há nada errado. E há. Isso, no caso de ensino, e aí entra o professor, vai ser motivo, e já deve estar sendo, de muito trabalho escolar se baseando em informações ora corretas, ora imprecisas.
Outro ponto que surpreende no GPT é a sua capacidade de criar, desde roteiros, poemas, letras de música, contos. Recentemente, uma editora detectou que estava recebendo originais feitos com essa tecnologia e suspendeu os pedidos.
Para a criação publicitária, funciona como um colega de brainstorm. Fiz essa experiência. Valeu para ver que, mesmo trazendo boas informações, não se iludam que vai dar a solução de mão beijada. Problemas complexos de criação pedem soluções com nuances que a inteligência artificial ainda, sabe-se lá se vai conseguir, não alcança. Com a curadoria do criador, coisas pequenas dão pra aproveitar, como variações de redação de uma mesma frase, por exemplo.
E tem as inteligências artificiais para construções de imagens, filmes e músicas. São todas ferramentas novas criativas que, por um lado, estendem a mais pessoas o prazer de criar algo. Creio que aí pode ocorrer um novo comportamento semelhante ao que se viveu e estamos vivendo com as possibilidades de todos poderem ser um emissor de conteúdos, nas redes, no youtube. Num primeiro momento, o jornalismo, que tinha quase o monopólio de emitir conteúdos, sentiu um impacto. Com o tempo, foi dialogando com esse novo contexto e encontrou outras formas de lidar com a informação.
Por fim, deixo um relato das respostas do Chat GPT sobre a minha pessoa. Perguntei sobre o escritor Ricardo Silvestrin. No geral, acertou quem era, mas falhou a data do meu nascimento, listou livros que não escrevi e deu uma boa enrolada parecendo saber sobre as sinopses de alguns dos meus livros. Falou com convicção, mas cheio de equívocos.
O mais divertido foi quando perguntei sobre o publicitário Ricardo Silvestrin. Começou bem, mas lá pelas tantas me saiu com essa: depois de algum tempo criou sua própria agência, a Escala, que, mais tarde, foi vendida para a Publicis. Segundo o Chat GPT, eu estaria agora montado na grana!