Ao relembrar as canções que embalaram e embalam a minha vida, quero também ratificar a importância de um veículo como a Rádio FM Cultura*.
A proposta do programa “As músicas que fizeram a sua cabeça” da Rádio FM Cultura era instigante. Ivette Brandalise estimulava o entrevistado a falar sobre a vida a partir das canções que ouvia, cantava e acabaram testemunhas da sua trajetória. Quando fui convidada para participar minha emoção foi grande. Primeiro porque eu gostava muito do programa e ouvia sempre que possível. Segundo porque a música faz parte do meu cotidiano desde a infância. De uma época na Jaquirana – onde nasci – quando morava com os avós maternos Juvenal e Sinhá. Meu avô foi o primeiro na vila a ter um rádio e ouvíamos muito. Depois, já morando em São Francisco de Paula e mais tarde em Porto Alegre, segui ouvindo rádio. Portanto, as lembranças são muitas. E selecionar 10 canções foi uma aventura estimulante, um passeio musical por momentos importantes da minha história. Gravei a entrevista no dia 29 de janeiro de 2019.
Então, vamos lá! Coloca a eletrola para funcionar e traz o vinil ou o LP ou o CD, enfim! Ou, ou, ou… Tantas mudanças! Mas uma trilha sonora não pode faltar.
As músicas que fizeram a minha cabeça
1.Luar do Sertão – Toada de versos simples sobre o sertão, de Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco. Uma das músicas brasileiras mais gravadas e que meus avós maternos, minha mãe e minhas tias cantavam muito.
2. Oh! Carol – Cantada por Neil Sedaka, roqueiro, cantor, pianista e compositor dos anos 1950. A música é de 1959, se não me engano. Eu ouvia minha irmã mais velha e os amigos cantar e achava linda.
3. Quero que vá tudo para o inferno – Roberto e Erasmo Carlos, 1965. O auge da Jovem Guarda. Fui muita fã de Roberto nesta época. Estudava com o rádio ligado e quando possível ia até a casa de uma tia que tinha televisão olhar o programa Jovem Guarda, apresentado por ele, sempre na companhia de Erasmo e Wanderléa.
4. She loves you – The Beatles. Deles, eu poderia escolher inúmeras outras canções, ou todas, porque foram a grande paixão da minha vida desde que surgiram. E são ainda hoje!
5. Alegria, Alegria – Caetano Veloso, 1967. A explosão do Tropicalismo no Brasil, movimento que entrou naturalmente para a trilha sonora da minha vida e ficou.
“Eu vou, por que não?”
6. Domingo no Parque – Gilberto Gil, 1967. Também da explosão tropicalista e dos festivais de música que aconteciam no Brasil e eram vertiginosos. Música cinematográfica, teatral, maravilhosa, que me emociona muito.
“Foi no parque que ele avistou / Juliana na roda com João
Uma rosa e um sorvete na mão / Juliana seu sonho, uma ilusão
Juliana e o amigo João
O espinho da rosa feriu Zé / E o sorvete gelou seu coração”.
7. Maria, Maria – Milton Nascimento e Fernando Brant. Foi também o primeiro espetáculo do Grupo Corpo (1976) que vi em Porto Alegre, no Teatro Presidente (acho que se chamava assim).
“Maria, Maria é o som, é a cor, é o suor / É a dose mais forte e lenta /
De uma gente que ri quando deve chorar / E não vive, apenas aguenta”.
8. Sangue Latino – De João Ricardo e Paulinho Mendonça, com Secos e Molhados. E, claro, a presença definitiva de Ney Matogrosso.
“Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos /
Meu sangue latino / Minh’alma cativa”.
9. Angélica – De Chico Buarque de Holanda. Homenagem a Zuzu Angel, mãe de Stuart Angel, jovem morto pela ditadura militar brasileira. É muito simbólica, muito forte. Esta música inspirou a tese de doutorado da minha irmã, Marlene Teixeira, que eu acompanhei de muito perto. Eu poderia colocar A Banda, outra canção emblemática do Chico, entre tantas outras, mas Angélica tem uma história muito particular, que sempre me comoveu muito.
“Só queria embalar meu filho / Que mora na escuridão do mar”
10. O Bêbado e o Equilibrista – de Aldir Blanc e João Bosco (1978), com Elis Regina. Outra canção simbólica de tempos muitos difíceis no Brasil. Vivíamos a ditadura militar e a censura era implacável.
“A esperança equilibrista / Sabe que o show de todo artista / Tem que continuar”
E tem! A arte é imprescindível
* “Do erudito ao contemporâneo, a FM Cultura 107.7 tem uma programação dedicada à cultura, à notícia e à música de qualidade com reportagens, entrevistas e debates sobre assuntos variados do mundo musical e do jornalismo. Inaugurada em 1989, a rádio tem como principal objetivo oferecer um conteúdo público e plural. Uma comunicação voltada para a livre expressão, que valoriza as produções independentes. O conteúdo oferecido também é beneficiado pelas parcerias que a instituição mantém com outras emissoras públicas do país”.
Eu trabalhava na TVE quando a FM Cultura foi inaugurada. Uma festa. Uma alegria. Uma conquista incrível.
Foto da Capa: Matthias Groeneveld / Pexels