Esse é o título de uma música que começou a tocar em meu aplicativo musical e essa frase escrita na tela do meu telefone me mobilizou o suficiente para pensar nela como título do meu próximo texto. A música trazia o título enquanto afirmação, e eu insiro a interrogação. As palavras estão mortas? Estamos mesmo reféns desse mundo de imagens onde ninguém mais lê legenda alguma, ninguém entende subtexto, ironia? Nosso vocabulário encolheu ou se abreviou com as novas linguagens tecnológicas que engolem letras?
Ando estudando muito sobre a força narrativa e, simultaneamente, o que diversos autores, como Benjamin, nos falam sobre a falência dessa capacidade narrativa. Mas se, no caso do texto Benjaminiano, ele nos falava sobre a falência dessa capacidade no pós-guerra, hoje os traumas são outros. Não existe um grande evento marcante a nível mundial, mas sim diversos pequenos desmoronamentos da ilusão e da ingenuidade, somados à ganância e ao desejo de poder de grandes empresas que manipulam dados e imagens e nos tornam consumidores cegos e cada vez menos pensantes.
Muitos eventos historicamente significativos ocuparam as notícias nos últimos dias. A morte do papa Francisco certamente ocupou telejornais e feeds de notícias, além das políticas nada políticas do dito tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Diante desses grandes temas, chamou minha atenção o tempo dedicado a ambas as matérias, mas acima de tudo, a repetição incessante das mesmas informações que apenas se repetiam em horários diferentes. Não havia muito mais a ser dito, apesar da magnitude de ambas as figuras no cenário mundial. E me coloquei a pensar nas notícias que recebemos dos telejornais ou de posts do Instagram sem grandes reflexões ou questionamentos, apenas uma reprise de dados. Claro, jornalismo sério deveria ser realmente sobre isso. A informação imparcial e objetiva, mas minha ponderação é sobre essa dificuldade em assumirmos uma postura mais reflexiva frente aos acontecimentos e frente à vida em si. Isso não é fortuito e nem por acaso. Há uma falência progressiva na formação de jovens leitores e formadores de opinião que me preocupa. Na academia, os jovens vêm sentindo na pele – e consequentemente os professores e professoras – esse declínio a olhos vistos na capacidade narrativa, de subjetivação da aprendizagem e na capacidade metafórica. Incluo nessa perda também, infelizmente, a riqueza de vocabulário.
É preciso resistir com arte, com educação, uma certa teimosia e esperança. Escrever livros, comprar livros, ler para as crianças, consumir arte: de rua, de museu, de internet. Falar sobre arte, falar e explicar metáforas, expandir os vocabulários, não desistir de quem prefere o raso ao profundo. A vida parece apertar às vezes, mas foi Ferreira Gullar quem nos ensinou que a arte existe porque a vida não basta. Ouso acrescentar que a palavra existe porque o olhar às vezes é pouco. As palavras não estão mortas enquanto nós não estivermos todos.
Há que saber – e por isso aprender a – interpretar a vida.
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Foto da Capa: Gerada por IA.