Você já percebeu quantos papéis nós vamos empilhando ao longo da vida?
Não falo dos que ficam sobre a mesa ou dentro das gavetas, ou em caixas e pastas. Falo dos papéis que assumimos no desenrolar da nossa existência.
Nasci no papel de filha, virei a irmã do meio, adolesci um pouco rebelde. Fui uma jovem aventureira, exploradora com mochila nas costas. Me tornei esposa, mãe, profissional, dona de casa, empresária e tantas outras coisas, hora como protagonista, hora coadjuvante.
Hoje continuo filha, porém agora também um pouco mãe dos meus pais. Continuo a irmã do meio, posição que carrega ainda o título de tia. Deixei de ser aquela mamãe tão indispensável e tive que me reencontrar no papel da progenitora com um ninho praticamente vazio. Me reinventei profissionalmente e estou uma vez mais em transição de carreira. Ainda sou amiga de amigas novas e ex de amizades passadas. Para alguns adversária, para outros conselheira, e muitas vezes a aconselhada.
Esses diferentes papéis trouxeram e trazem à tona diferentes características, emoções e comportamentos em mim.
Estas diferentes versões que assumimos são como capítulos de um livro em constante evolução. Começamos como páginas em branco, crescendo para ser a versão infantil inocente, depois a adolescente buscando identidade, seguida pela adulta moldada por responsabilidades e desafios. Haja fôlego para encontrar equilíbrio entre o planejado e o inesperado.
A cada versão que surge temos que ter o cuidado de não deixar amarelar as páginas anteriores, mesmo que muitos destes papéis que desempenhamos um dia tiveram como base o contexto do momento, eles também serviram para nosso desenvolvimento e construção.
Houve até aqui uma melhor versão?
É o que muitas vezes me questiono.
A ideia de que existe uma “melhor versão” reforça a existência de várias versões diferentes. Porém, serão essas versões realmente tão distintas do meu verdadeiro eu? Ou simplesmente seriam máscaras que decidi usar nos papéis que escolhi desempenhar?
Isso pode soar como uma escolha minuciosa de palavras, mas hoje vejo que há uma diferença entre acreditar em diferentes versões e entender quem realmente sou.
Ao ficar com a última opção, assumo que ser a melhor “versão” de mim mesma não significa escolher uma das muitas versões, mas sim viver autenticamente quem sou.
Portanto, decidi reconhecer e abraçar as diferentes dimensões da minha personalidade.
Hoje sei que sou muitas e única ao mesmo tempo, pois todas as que fazem parte de mim são necessárias e me fizeram ser a mulher que sou neste momento.
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