Donald Trump age como aquele valentão do colégio. Ameaçador na fala, violento nos atos, sem empatia em parte nenhuma. Vale-se de sua força para conseguir o que deseja para si, sem se importar com as consequências para o outro. Faz assim com o México, o Panamá e mesmo com os maiores como a China, os escandinavos e a Europa como um todo. Ameaça para conquistar. Grita para conseguir.
A analogia segue válida quando a gente olha para a psicologia de um só indivíduo, tentando encontrar algum sentido para o que não parece ter nenhum. Os valentões eram, no fundo, sujeitos inseguros, em geral da própria alma. Não bastava serem corpulentos em uma sociedade machista e abusiva que valorizava tais atributos. Os músculos já não conseguiam sustentar aquilo que precisa ser mais forte para tornar-se o maior dos alicerces da pessoa, que é sentir-se amada.
Dez entre dez valentões não se sentiam amados.
Trump não se sente amado.
Dez entre dez valentões se sentiam feios, sendo a sensação da aparência do corpo a metáfora da própria alma.
Trump se sente feio, conforme contou o escritor Paul Auster, seu contemporâneo. E, então, não tem bronzeamento artificial para dar conta do que naturalmente deveria ter transmitido uma sensação de ser e de significar para o outro. Ou seja, angariar os sentimentos sempre subjetivos de ser belo e amado nesta vida.
Por detrás de um valentão, há uma história comprida (desde antes de seu nascimento) de representações negativas de seus pais, onde faltou olhar, toque, canções e desejo. Falando nisso, o olhar de Trump é mesmo assustador. Isso costuma ser fatal e deslocar-se para a truculência como forma de passar o mal adiante, já que ninguém suporta guardá-lo dentro de si. “Eu tenho uma grande arte, firo duramente aqueles que me ferem”, segue atual o poeta Arquíloco, apesar de ter criado os versos em um passado distante.
Infelizmente, a certa altura, a analogia nos abandona. Já não há como levar o individual ao coletivo. É que o valentão, no melhor dos casos, a gente ignorava, saindo de fininho ou correndo da sua alça de mira. Às vezes não dava e precisava aprender a lutar judô ou conhecer a parte melhor para se socar um nariz. Às vezes não dava e precisava apanhar, estatelando-se na pedra dura do colégio, de onde se erguia dolorido, mas fortalecido para as lutas do futuro.
Já com déspotas como Donald Trump é mais difícil. Deslocaram-se do individual e mesmo do pequeno grupo para o mundo inteiro, onde o estrago é muito maior. Então, será preciso – alerta-nos a História – um esforço imenso coletivo de todos aqueles que ainda conservam alguma empatia pelas pessoas e pelo Planeta onde vivem. E, às vezes, nem isso dá.
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Foto da Capa: DonkeyHotey / WhoWhatWhy (CC BY-SA 2.0)