No mês das mulheres, pouco se aborda sobre as barreiras que impactam diretamente no desenvolvimento das lideranças femininas no ambiente laboral.
O assédio no ambiente de trabalho é um problema sério que afeta profundamente a carreira das mulheres. Esse tipo de violência pode se manifestar de diversas formas, como assédio moral, sexual e discriminação, comprometendo não apenas o bem-estar das vítimas, mas também suas oportunidades de crescimento profissional.
Pesquisas recentes revelam a gravidade da situação. Um levantamento da Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostrou que mais de uma em cada cinco pessoas empregadas sofreu violência ou assédio no trabalho, com as mulheres sendo as mais afetadas. No Brasil, um estudo da Deloitte apontou que 40% das mulheres relataram ter sofrido assédio sexual no ambiente de trabalho, e 60% delas não denunciaram o ocorrido. Além disso, 35% das entrevistadas relataram ter sido vítimas de microagressões, como “mansplaining” e “gaslighting“, e 77% decidiram não relatar os casos.
A maternidade é frequentemente vista como um período de realização pessoal e crescimento, mas para muitas mulheres percebem o impacto dela especialmente no ambiente de trabalho. O assédio contra mães, ou mulheres grávidas, pode se manifestar de diversas formas, desde discriminação na contratação e promoção até comentários depreciativos e atitudes hostis.
Uma das formas mais comuns de assédio é a discriminação profissional. Muitas mulheres enfrentam dificuldades para conseguir emprego ou são preteridas em promoções por estarem grávidas, ou terem filhos pequenos. O estigma de que uma mãe não será tão produtiva quanto um funcionário sem filhos ainda é um problema recorrente.
Segundo pesquisa da plataforma vagas.com, 52% das mães que engravidaram ou saíram em licença maternidade em seu último trabalho passaram por alguma situação desagradável na empresa. Há também, diversos relatos de mulheres que, após voltarem da licença-maternidade, se deparam com a perda de cargos ou responsabilidades.
O impacto do assédio e discriminação na carreira das mulheres pode ser devastador. Muitas são forçadas a abandonar seus empregos para escapar de ambientes hostis, o que resulta em interrupções na trajetória profissional e dificuldades para a recolocação no mercado. Além disso, o estresse e o desgaste emocional causados pelo assédio afetam a produtividade e a confiança da profissional, prejudicando seu desempenho e suas chances de promoção. Dados mostram que 53% das mulheres brasileiras relatam níveis elevados de estresse, acima da média global, e 34% precisaram tirar licença do trabalho por motivos de saúde mental.
Outro efeito negativo é o silenciamento das vítimas, que muitas vezes não denunciam os casos por medo de represálias ou da falta de suporte das empresas. Apenas metade das vítimas globalmente revela suas experiências para outra pessoa, muitas vezes devido à vergonha ou falta de confiança nas instituições. Esse medo perpetua uma cultura organizacional tóxica e dificulta mudanças estruturais necessárias para garantir um ambiente de trabalho seguro e igualitário.
Empresas que não combatem o assédio perdem talentos valiosos e comprometem sua reputação. Para evitar esses danos, é essencial a implementação de políticas rigorosas de prevenção e combate ao assédio, bem como a criação de canais seguros para denúncias e o fortalecimento de uma cultura de respeito e igualdade.
No Brasil, o “Movimento Elas Lideram 2030”, uma parceria entre o Pacto Global da ONU Brasil e a ONU Mulheres, visa comprometer 1.500 empresas com a paridade de gênero na alta liderança até 2030. Essa iniciativa busca aumentar a representatividade feminina em posições de decisão, criando oportunidades para que mais mulheres, incluindo mães, alcancem cargos de destaque.
Além disso, organizações como o “Grupo Mulheres do Brasil” e “Rede Mulher Empreendedora” desenvolvem projetos focados na adoção de políticas afirmativas e na eliminação das desigualdades de gênero, raça e condição social. Essas iniciativas buscam criar um ambiente corporativo mais inclusivo, onde as mulheres possam prosperar profissionalmente sem enfrentar discriminação ou assédio.
Iniciativas lideradas por grupos de mulheres têm desempenhado um papel crucial na promoção da equidade de gênero, resultando em avanços significativos no Brasil e no mundo. No entanto, é necessário manter o compromisso contínuo de governos, empresas e sociedade para garantir que toda mulher tenha seus direitos respeitados sem medo de sofrer represálias, desenvolvendo suas carreiras de forma plena, livre de violência e discriminação.
Conceitos:
- Mansplaining: termo que descreve a prática de um homem explicar algo a uma mulher de maneira condescendente, pressupondo que ela não tem conhecimento sobre o assunto.
- Gaslighting: forma de manipulação psicológica na qual uma pessoa faz outra duvidar de sua própria percepção, memória ou sanidade.
Mariana Ferreira dos Santos é advogada, conselheira independente, membro do IBGC - Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, diretora do IIAC - Instituto Ibero-Americano de Compliance, consultora compliance.
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Foto da Capa: Freepik