No Brasil, parece que quanto mais se fala em política, menos as pessoas acreditam nos políticos e estes, por seu lado, pouco fazem para mudar a situação. Uma declaração recente do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, do partido Novo, dá bem a medida da consistência ideológica dos nossos partidos e explica porque só dois em cada 10 brasileiros simpatizam com algum deles.
Na última semana de setembro, o governador mineiro – tido como um dos prováveis candidatos da direita à Presidência República em 2026 – durante evento com empresários, disse que votou em Bolsonaro mais por ser contra o PT do que por concordar com as propostas do capitão.
Dias antes da fala de Zema, o jornal O Globo publicou pesquisa do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação, formado por pesquisadores da UFMG, da UERJ, da Unicamp e da UnB, mostrando que 80% dos brasileiros não simpatizam com nenhum partido político. Foram ouvidas, na semana de 22 a 29 de agosto, 2.558 pessoas em 167 cidades. O título da pesquisa é A Cara da Democracia Brasileira.
E esse distanciamento das brasileiras e brasileiros em relação aos partidos pinta uma cara de tristeza à nossa democracia. Mas como esperar que o eleitor comum se posicione diante de um partido quando a principal liderança de um deles admite que vota mais para impedir a vitória de um candidato do que por acreditar nas propostas de outro?
O Brasil tem 33 partidos políticos registrados no Tribunal Superior Eleitoral. Desses, 21 têm bancadas na Câmara dos Deputados e 12 estão representados no Senado. Onze partidos elegeram governadores de estados. Ministros de 11 dessas legendas ocupam gabinetes na Esplanada dos Ministérios. Em 2024, os registros do TSE indicavam que 156,4 milhões de brasileiros estavam aptos a votar.
Não quero chatear você com números, mas veja só: desses 156,4 milhões de brasileiras e brasileiros obrigados a ir às urnas de dois em dois anos, sabe quantos são filiados a alguma dessas três dezenas de legendas?
Pouco mais de 15 milhões, algo em torno de 10 por cento dos eleitores.
Com 2,7 milhões, o MDB é o partido com o maior número de filiados. Apenas outros seis partidos têm mais de 1 milhão de filiados: PT (1,6 milhão), PSDB (1,3 milhão), PP (1,3 milhão), PDT (1,1 milhão), PTB (1.07 milhão) e o União (1.06 milhão).
Voltemos à pesquisa. Dos 20% que admitem simpatia por algum partido, 65% citaram o PT de Lula e outros 15% declararam simpatia pelo PL de Bolsonaro. Comparando os números da pesquisa do IDDC com os registros do TSE, temos que apenas pouco mais de 20 milhões de brasileiros simpatizam com o PT e outros 4 milhões e poucos se declaram simpáticos ao PL.
Será que é o povo que não liga para a política? Ou são os políticos que não ligam para o povo e nem fazem nada (boa parte deles, pelo menos) para que o povo passe a se interessar mais – ou um pouquinho, pelo menos – pela política?
Fácil responder, não? Enquanto a violência urbana destrói mata e fere gente todos os dias nas principais cidades, desastres climáticos vitimam milhares em todas as regiões do pais, no Congresso Nacional os parlamentares se ocupam em debates sobre uma Proposta de Emenda à Constituição que anistia os partidos de multas que lhes foram aplicadas pela Justiça Eleitoral por irregularidades em suas… prestações de contas.
Ah! As lideranças políticas também estão na TV e no Rádio. E todas com o mesmo discurso: junte-se a nós, filie-se ao P… Agora, pergunte a algum desses poucos filiados aos partidos quantas vezes ele foi chamado a participar de reunião com dirigentes partidários para conversar sobre política? Fora, é claro, dos períodos eleitorais, quando todos ficamos visíveis a quem, durante o resto do tempo nos vê como votos e não como cidadãos agentes do desenvolvimento do país.
Resumindo, é assim: boa parte dos políticos brasileiros olha o eleitor como um voto e não como um cidadão que enfrenta todo tipo de dificuldade e, ao fim e ao cabo, é o agente do desenvolvimento do país. Essa mesma parte, não entendeu que estes tempos de novas tecnologias, de novos meios de comunicação, que nos levam aonde quisermos ir, que – para o bem e para o mal – nos dão a informação quisermos ( e as que não queremos), estão formando novos cidadãos, que se organizam e se comunicam sem intermediários.
Enquanto as lideranças políticas não entenderem que precisam se comunicar de forma mais interativa do que por meio desses monólogos dos horários partidários no rádio e na TV, a cara da democracia brasileira vai ser essa de, como dizia minha vó Baldíria, “nem te ligo, democracia…”
Foto da Capa: Governador de Minas Gerais, Romeu Zema – Imprensa MG