Todos os indivíduos merecem cuidados que valorizem sua saúde, bem-estar e autoestima. No entanto, para a população negra, quando pensamos em autoestima, vemos que o acesso à medicina estética, por exemplo, ainda é um privilégio distante, muitas vezes limitado por barreiras sociais e econômicas. É hora de mudar essa realidade. Os cuidados estéticos consistem em uma ferramenta de empoderamento da população negra, que pode e deve se reconhecer merecedora desses cuidados, rompendo preconceitos e obstáculos históricos.
Por muito tempo, a medicina estética foi vista como um espaço elitizado e pouco acessível para grupos racializados. Essa exclusão, sustentada por desigualdades econômicas, falta de representatividade e preconceitos, privou a população negra de usufruir dos benefícios que vão além da aparência: o fortalecimento da confiança, da saúde emocional e das oportunidades sociais e profissionais.
No Brasil, onde 56% das pessoas se autodeclaram pretas e pardas, é urgente criar iniciativas que promovam equidade no acesso aos serviços de saúde e estética, garantindo que todos possam se sentir cuidados e valorizados.
A importância da medicina estética não está restrita à questão da aparência. É uma forma de cuidar da saúde da pele, de melhorar a autoestima e de contribuir para o bem-estar emocional. Para pessoas negras, pode incluir soluções que respeitem as características específicas da pele, como tratamentos para manchas, cicatrização e hidratação, entre outras peculiares à raça. Além disso, investir na autoimagem é um ato de resistência em uma sociedade que muitas vezes negligencia ou desvaloriza os padrões de beleza que desafiam a lógica eurocêntrica.
O rompimento de barreiras e preconceitos acontece com a democratização do acesso. Adotando algumas estratégias, pode-se ampliar essa inclusão:
1. Educação: é fundamental desmistificar a ideia de que a estética é um luxo. Palestras e workshops podem explicar os cuidados essenciais para a pele negra e seus benefícios.
2. Acessibilidade: é preciso tornar tratamentos mais acessíveis por meio de parcerias com empresas, profissionais voluntários e programas de financiamento coletivo.
3. Representatividade: uma iniciativa extremamente importante é incentivar a formação de profissionais negros na área estética para criar espaços onde esse segmento da população se sinta acolhido e compreendido.
4. Eventos Comunitários: organizar dias de atendimento gratuito ou com preços reduzidos facilitará a apresentação das soluções e permitirá que mais pessoas conheçam e se beneficiem desses cuidados.
5. Oportunidade de Investimento: também vale lembrar que há um grande mercado a ser valorizado, especialmente de afroempreendedores, com um potencial de consumo que supera a cifra de R$ 2 trilhões ao ano.
O que faço é um convite à população negra para que reivindique seu espaço, também, na medicina estética. Merecemos ser cuidados, valorizados e empoderados. Ao investir na nossa saúde e bem-estar, estamos também investindo em nossa força e autoestima.
Transformar a medicina estética em um espaço de inclusão é uma questão de equidade, dignidade e respeito. Merecemos não apenas acesso, mas um atendimento que compreenda e celebre nossas características únicas. Juntos, podemos romper barreiras e construir uma sociedade onde todos tenham a oportunidade de se sentir confiantes e valorizados.
* Silvio Pereira é médico há 38 anos (CRM-RS 15222), com especialidade em Cirurgia Geral, em cirurgia de vesícula, hérnias e cirurgias ambulatoriais, como cistos, cicatrizes e tumores de pele. Atua há mais de 20 anos em estética médica, incluindo tratamentos para manchas, rugas, estrias, celulite, rejuvenescimento facial e cirurgia plástica. Como professor de pós-graduação em Medicina Estética, preparou diversos profissionais para atuação na área. Desde 2024, é associado Odabá.
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