Futebol, política e religião não se discutem, diz a frase empoeirada para justificar o injustificável: por que acreditamos num ser superior e suas histórias fantasiosas? Por que seguimos cegamente um líder político mesmo fora das ‘quatros linhas’? Ou por que continuamos a torcer por um time que dá mais tristezas que alegrias? Não pretendo, porém, explicar nada disso. Deixa lá pra freudianos falarem na pulsão da morte, na projeção de defesa..
Sou gremista, e já registro meu lugar de fala pra não haver dúvida. Mas não vou a estádios, nem sei a escalação do time. Penso que virei gremista porque causa de uma ação de marketing do clube. Quando estava nos anos iniciais de estudos, pelos meus 8 ou 9 anos de idade, talvez em 1973, quando o Grêmio fez 70 anos, apareceram nas salas de aulas da Escola Estadual Presidente Roosevelt, no bairro Menino Deus, em Porto Alegre, uma tropa de jovens de gremistas trajados, servindo arroz de leite aos alunos. Foi uma coisa boa, tanto que lembro até hoje (mas bem pode ser uma invenção também).
Penso que sou gremista mesmo só porque não poderia deixar de ser alguma coisa. O clube de futebol parece fazer parte da identidade de qualquer brasileiro, nos definimos a partir dele. Um sujeito que não torce pra clube nenhum não é brasileiro. Tipo, quem não gosta de samba, bom sujeito não é. Desculpe aí, gosto mais de rock, exceção a uma exceção, o sambista Chico Buarque 80 anos. Não falo muito disso por aí pra não parecer muito estranho. Só falta o cara dizer que é ateu. Pois é…
Não sei se você tem observado que cada vez mais o futebol vem ganhando espaço na mídia tradicional. E na não tradicional também. Não sei se há algum estudo sobre isso, minha observação é empírica. Só posso atribuir à regularização – meia boca – das plataformas de apostas (elas ficaram anos sem pagar um tostão de imposto). De outro lado, temos os veículos de comunicação que desde a ascensão da internet viram suas receitas sumirem. Já iniciativas de jornalismo na internet sempre tiveram dificuldades de sustentabilidade. Até apareceram as bets para virar o jogo para a felicidade geral.
“Os brasileiros gastaram aproximadamente US$ 11,1 bilhões (cerca de R$ 54 bilhões) em jogos e apostas online entre janeiro e novembro de 2023, um valor que supera as exportações de carne bovina do país no mesmo período”, diz o Olhar Digital.
Já para o mercado publicitário, a estimativa é de investimentos anuais de R$ 2 bi. É grana suficiente pra todo mundo tirar o pé do barro. Logo, não é de se estranhar que a programação esportiva venha crescendo vertiginosamente, enquanto mais se empobrece a cobertura e a qualidade do jornalismo.
Bora atrás da grana de uma das 300 bets que operam no Brasil. Ali na rádio, onde havia reportagem, bota uma galera pra fazer uma resenha de futebol. Demitido do veículo? Abre um programa no Youtube. Programas caros, sem patrocínio, dá-lhe transmissão da Champions, do Campeonato Africano, NBA, NFL..
Eu, cá no meu cantinho, ouço menos rádio, leio menos jornal, vejo menos TV aberta, me sentindo barrado por estar de pijama no baile do calção e da camiseta.
Foto da Capa: Freepik / Gerada por IA
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