Existem situações inevitáveis na vida, que qualquer experiência humana terá. Uma delas é o conflito, sejam eles amorosos, de trabalho ou de qualquer outra natureza. Um dia você teve o seu primeiro conflito. Poderá ter sido com seus pais por causa da hora de ir pra cama, irmão ou irmã porque não quiseram dividir um brinquedo. Quem sabe com um/a colega de escola porque você se sentiu magoado/a.
Lá na infância as coisas se resolviam mais facilmente, sentíamos que nossos sentimentos podiam ser expressados mais facilmente, mesmo que não compreendêssemos muito bem o que estivesse se passando conosco. Afinal, éramos crianças. Com o passar do tempo, expressar esses sentimentos foi ficando cada vez mais complicado… Bater no amigo? Gritar com o mano? Xingar os pais? Gente grande não se comporta desse jeito. Ficar com raiva? Raiva não é um bom sentimento. Precisamos ser bem educados… pra o quê, mesmo?
Nas últimas semanas tenho me aprofundado e decupado sobre o maior e mais importante estudo a respeito de bem-estar e felicidade que vem sendo feito no mundo, há mais de 84 anos, pela Universidade de Harvard. Nele, os pesquisadores encontraram, entre todos os fatores já (re)conhecidos como importantes para o bem-estar e felicidade, aquele que é fundamental e que irá determinar – inclusive a saúde física, mental e a longevidade saudável – a saúde social, ou seja, os vínculos de qualidade que possuímos com as pessoas ao longo da nossa vida. Porém, vivemos em tempos em que as relações líquidas, quase gasosas, dificultam a gente a atingir essa meta. Também parece contribuir um ambiente de constante descontentamento, até mau grado em conviver com quem pensa diferente, e uma certa má vontade sobre o outro que me desagrada. E, num acender de fagulha, a explosão acontece. Os ressentimentos de infância. A falta de dinheiro. O medo da violência diária. A falta de carinho dos filhos. A raiva que engoliu por causa do chefe. A “mochila” que cada um/a carrega se abre e sai de perto! Desse jeito, como construir e manter conexões significativas e duradouras?
Na semana passada trouxe o trabalho do psicólogo e pesquisador Adam Grant que dá direções para que cada pessoa possa melhor se conhecer e informações confiáveis a respeito de como criar vínculos significativos para sua vida, que espero tenha lhe ajudado (aqui).
Hoje, gostaria de olhar com você sobre o método W.I.S.E.R., criado pelos pesquisadores da Universidade de Harvard, que tem como objetivo reduzir a velocidade com que reagimos, nos dando tempo para observar mais de perto as particularidades das situações, as experiências das outras pessoas envolvidas e as nossas próprias reações.
- Observação (Watching)
Em todos os momentos de estresse e de sentir a emoção fervilhar, um pouco de curiosidade proposital irá fazer muito bem pra você. Claro que parar para observar não é uma coisa fácil a ser feita. Mas é extremamente saudável e produtivo.
Essa situação é comum ou é rara? O que costuma acontecer nela? O que, talvez, está acontecendo desapercebido? A pessoa está sob grande estresse ou não? Você pode fazer perguntas, sobre o que está ocorrendo, qual é a necessidade que está emergindo.
Repare com o que está acontecendo com você, seu corpo, sua respiração, sua sensação no peito, estômago, nos pensamentos que lhe ocorrem.
Isso vai lhe fornecer ideia sobre o contexto do que está acontecendo.
- Interpretação
Olhamos o mundo a todo momento e avaliamos por que essas coisas acontecem e o que elas significam pra nós. Cada um de nós interpreta do seu jeito. O que a gente acha que é a “realidade”, muitas vezes é a forma com que enxergamos o mundo.
Por isso, nessa etapa é importante se fazer algumas perguntas: por que estou saindo do sério? Por que estou me sentindo assim? De onde veio essa emoção? O que realmente está em jogo? Por que esta situação me afeta? O que estou presumindo e/ou supondo aqui? O que posso não estar enxergando aqui?
O importante nessa etapa é expandir nossa compreensão e tentar levar em conta outras perspectivas, mesmo que sejam desconfortáveis.
- Seleção
Agora é a hora de escolher: o que devo fazer?
Considerando as opções, os recursos e o que está em jogo, o que posso fazer agora? Qual seria um bom resultado? Qual a melhor maneira de realizá-lo? É nesse momento que estabelecemos os nossos objetivos e recursos. Tenho pontos fortes (bom-humor, por exemplo, que pode acalmar os ânimos) e pontos fracos (pavio curto).
- Empenho
Chegou o momento de reagir com a maior habilidade possível e empenhar-se na estratégia selecionada. Uma dica é praticar primeiro, nem que seja só no pensamento, escrevendo ou com alguém de confiança o que você vai falar e como vai dizer. As chances de sucesso aumentam. Haverá muitas tentativas e erros. Mas é a experiência que nos faz cada vez melhor, assim como é o treinamento que constrói os melhores atletas.
- Reflexão
Funcionou o que fiz? O que poderia fazer diferente? Aprendi algo novo sobre o desafio que enfrentei e a melhor maneira de lidar com ele? O processo de reflexão pode gerar frutos para o futuro. Com ele checamos na prática que nos tornamos mais sábios.
As vezes pessoas vivem problemas, conflitos, situações que acontecem indefinidamente em suas relações profissionais, íntimas e familiares. Se o Modelo W.I.S.E.R. fosse aplicado seria possível para essas pessoas saírem do atoleiro nos quais vivem e seguirem para um novo degrau nas suas conexões. Perfeito? Claro que não. Mas com certeza melhor. E, pra quem praticá-lo continuamente, transformador. Como ensina o professor budista Shohaku Okumura: “O mundo em que vivemos é o mundo que criamos”.