Este trecho da crônica é a continuação da parte 2 (aqui) que antes foi uma (des)continuidade da parte 1 (aqui). Relembrando que esta crônica é sobre uma história retrofuturista às avessas sobre a Revolução Farroupilha, também conhecida como a Guerra dos Farrapos. É de fato um recorte deste evento histórico, salpicado com alguns eventos mundiais nem tão relevantes assim. No plano político contemporâneo, esta crônica é sobre uma guerra de narrativas ideológicas ancoradas no passado ainda presentes. O colonialismo físico, psíquico e social ainda permanece como uma chaga a ser vencida.
13 de julho 1842. Ocorre a Revolução Liberal de 1842 no estado de Tamoios – onde 90 anos depois ocorrerá a Revolução Constitucionalista com os MMDC -, que deixa os farroupilhas animados para fazerem a sua própria Revolução. Na cidade de Cacequi, Bento reúne seus amigos e organiza a maior festa a céu aberto da província de Charrúa, o Jerked Beef Fest de 1842. Ninguém nunca mais veria uma festa mais animada. A festa dura sete dias seguidos. Ao final do festival, muitos decidem ficar e lutar ao lado de Bento e se unir às tropas farroupilhas. Mesmo porque as duas festas similares, a Sabinada da Bahia e a Revolução do Libera Tudo de Tamoios, ficaram sem patrocinadores para continuarem, e o povo remanescente da Sabinada e da Revolução de Tamoios, migram para se juntar a Bento. Eleutério, que agora abandona sua fase militar, retoma sua antiga paixão, de sapateiro, e lança sua marca de sapatos, todos na cor preta, que agrada ao público imediatamente naquele ano: o Sola Preta, e com um slogan que pegou: “Tenha o melhor negro a seus pés”. Os negros são sucesso de venda naquele ano.
2 de novembro de 1841. É a festa da matança pela matança. Em Santa Gabriela, o capitão da 41a. Infantaria do Império Tupi, Chico Pedro, captura 20 belas mulheres das tropas de Bento, assim como 400 carros de luxo. Na outra festa de Rincão Bonito o coronel João Propício Mena Barreto derrete 120 copos de cerveja artesanal gaúcha, faz 182 hot-dogs de charque e queima 800 ônibus públicos. Bento e Chico Pedro lutam para ver quem proporciona a melhor festa em território Tupi. Eleutério, líder dos Lanceiros Negros, é uma máquina mortífera, que não vê gênero, cor da pele, credo ou posição política, simplesmente aniquila, de infantes a idosos, sem piedade. Ele pega gosto pela morte e pelo poder em sua lança. Ela mataria até cansar desta vida. Neste mesmo ano James Ross tromba com um novo continente, a Antártida. Nascem os impressionistas Pierre-Auguste Renoir e Federico Zandomeneghi. O conceito de ironia constantemente referido a Sócrates é publicado por Søren Kierkegaard, e nasce o Cavaleiro da Fé, que cavalgará conosco até os tempos modernos. Urânio é isolado.
28 de março de 1840. A capital da República Poncho Verde é movida para o interior do país: Alegrete. Setenta e seis dias antes, os republicanos sofrem uma perda significativa de seu contingente comercial e os farrapos perdem grande parte do seu território. Ascensão e queda da República Poncho Verde. Este ano é marcado por um abrir e fechar de lojas em todo o território farroupilha. A general Andréa, que havia retomado Laguna de Bento, logo é nomeada a nova Presidente Imperial da Província de São Pedro do Poncho Verde e Comandante do Exército Imperial na província.
Ano: 1840. Porto Alegre é tomada pelo Império, logo após o Golpe da Maioridade, onde o menino D. Pedro II assume o trono do Império Tupi. Neste momento, a República Poncho Verde fica sem acesso ao mar, e fica entrincheirada ao sul e a oeste pelos espanhóis e a leste pelo Império. Neste mesmo ano, no hemisfério norte, os Bretões chegam em Aotearoa, A Terra da Grande Nuvem Branca e descobrem o canguru e alguns aborígenes que por lá se divertem no ócio. Nasce Auguste Rodin, que 58 anos depois iria expor pela primeira vez sua mais controversa e divertida obra, Honoré Balzac, que só seria produzida em bronze, 22 anos depois da morte dele, no mesmo ano que eclode a Primeira Grande Guerra Mundial. Ítrio é isolado.
O retrocesso espaço-temporal (des)contina na nem tão próxima/distante semana.
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Leitura indicada da semana:
- SALMI, F. A República Tupi: Histórias Retrofuturistas da Terra Brasilis, 2019.
- SVAMPA, Maristella. As fronteiras do neoextrativismo na América Latina: conflitos socioambientais, giro ecoterritorial e novas dependências. Editora Elefante, 2020.