O retrocesso des-avança. Semana passada foi revelada a parte 3 (aqui) que é uma descontinuação da parte 2 (aqui) que antes foi uma descontinuidade da parte 1 (aqui). Relembrando que esta crônica é sobre uma história retrofuturista às avessas sobre a Revolução Farroupilha (1845-1835), também conhecida como a Guerra dos Farrapos A Revolução Farroupilha durou dez anos . Uma época em que os ânimos nacionalistas estavam à flor da pele — coisa do passado é claro. É de fato um recorte deste evento histórico, salpicado com alguns eventos mundiais nem tão relevantes assim. No plano político contemporâneo, esta crônica é sobre uma guerra de narrativas ideológicas ancoradas no passado ainda presentes. O segregacionismo físico, moral e social ainda permanece como uma chaga a ser vencida — só nesta crônica obviamente. Qualquer similaridade seja em relação aos personagens ou em relação aos fatos (como as guerras contemporâneas como entre Rússia e Ucrânia ou entre Israel e Palestina) é pura coincidência.
24 de julho de 1839. Laguna é tomada e nasce a República Juliana, até então uma província do Império, na então província de Santa Catarina, mas só duraria 4 minguados meses. Eleutério que participara do cerco de Santa Catarina, pergunta para o então empresário Canabarro: – Com qual nome será batizado essa nova República, irmã da República de Poncho Verde? Davi Canabarro, instigado e surpreso pela pergunta, pois ainda não havia pensado em qual sutileza, dispara: – O que você acha? E eis que Eleutério com sua ingenuidade diz: – Que tal homenagear a sua amada amante açoriana Juliana? E não é que Canabarro, descendente de açorianos que o era de fato, entre uma taça de vinho e outra, concorda com Eleutério, sobe na mesa da taberna, e proclama: – Eu, Canabarro proclamo a nova República Juliana! Viva a Juliana! Viva a Nova República Juliana! E no dia seguinte, sem se lembrar bem da noite anterior, e todos com o nome de Juliana na boca do povo, aceita o destino e abraça o nome de batismo da sua nova República: Juliana. Cabe dizer que outra teoria afirma que o nome “Juliana” refere-se ao mês da proclamação. As pilhagens das cidades foram feitas com muita violência, bombas aéreas, prédios implodidos, execuções sumárias, degolas, estupros, reféns crianças. Barbárie nua e crua. Neste mesmo ano, nasce Paul Cézanne, que 36 anos pintaria sua obra “Banhistas” em duas versões e presentearia seus amigos Fredericos — Engels e Nietzsche, e nasce o pequeno Machado de Assis, que 41 anos depois publicaria suas Memórias Póstumas de Brás Cubas. Jaime C. Ross parte rumo à primeira expedição científica ao ainda desconhecido continente gelado da Antártida. Cério é isolado.
29 de agosto de 1838. Bento libera ao público seu mais importante manifesto aos poncho-verdenses, onde justificava as irreversíveis decisões tomadas em favor da libertação do seu povo: “Toma na extensa escala dos estados soberanos o lugar que lhe compete pela suficiência de seus recursos, civilização e naturais riquezas que lhe asseguram o exercício pleno e inteiro de sua independência, eminente soberania e domínio, sem sujeição ou sacrifício da mais pequena parte desta mesma independência ou soberania a outra nação, governo ou potência estranha qualquer. Faz neste momento o que fizeram tantos outros povos por iguais motivos, em circunstâncias idênticas.” Neste mesmo ano, Carlos Frederico Gauss é premiado por suas curvas, e Faraday por sua indução elétrica.
6 de novembro de 1837. Ocorre a Sabinada, a maior festa patrocinada pelo médico e grafiteiro Francisco Sabino. A festa durou 9 meses, até parecia uma revolução separatista. Os organizadores da festa propunham a existência de uma República Baiana, de caráter transitório, enquanto durarem os estoques de comidas a base de charque vindos da República Poncho Verde e os estoques de aguardente vindos das fazendas de cana-de-açúcar do Nordeste, ou até que o Imperador Dom Pedro II alcançasse a maioridade. Quatro meses antes, em 10 de setembro, Bento escapa da prisão, com a ajuda de seus latifundiários maçons, poucos dias antes do início da Sabinada. Eleutério de sobe pelos caminhos dos Tropeiros, avança dos Pampas até São Paulo, fazendo uma parada estratégica em Sorocaba para tomar fôlego, e na sequência encara as serras das Minas Gerais até alcançar a Bahia, local onde encontraria Onofre e o coronel Corte, que juntos articulariam para que libertassem o obeso Boticário e o presidente Bento. Bento, que fica sabendo da Sabinada, pediu para ser transferido para a Bahia, onde chega em 26 de agosto de 1837, e assumiu como DJ o palco no Forte do Mar.
Oito meses antes, em 15 de março, Bento Gonçalves tenta escapar da prisão, na província da Guanabara, junto de outros empresários e latifundiários. Pedro Boticário, que sofre de obesidade mórbida desde os 14 anos, não consegue passar pela estreita janela. Bento, solidário que era, desiste da fuga. Mas Onofre Pires consegue escapar. Neste mesmo ano Samuel Morse inventa o telégrafo, que seria usado pelos escravos para articular as revoluções ao redor do mundo, no norte do continente, Houston é incorporado à República do Texas. Morre um opressor, nasce outro. Édouard, Visconde de Walckiers, comerciante de escravos holandês e Alois Hitler. O primeiro morre em 17 abril e o segundo, filho ilegítimo, teria um filho chamado Adolf, nasce fruto de um caso da sua mãe Maria Anna Schicklgruber com seu amante judia. O neto, quando ficou sabendo da história da sua avó, elabora o plano mais diabólico para limpar aquela marca da sua família.
O retrocesso espaço-temporal descontinua na nem tão próxima/distante semana.
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Leituras indicadas para a dessemana:
- CHOMSKY, Noam. Barbárie em Gaza. Outras Palavras. (aqui)
- CHOMSKY, Noam. On Palestine. Chicago: Haymarket Books, 2015.