Que máximo, a Fernanda Torres foi escolhida, que fantástico para a cultura brasileira! Preciso ver o filme Eu ainda estou aqui quanto antes! Como dizia uma pessoa com muita sabedoria de vida que tive o privilégio de conviver: alegria de pobre dura pouco. Ao ler o comentário e a notícia com as declarações do Zuckerberg sobre as novas diretrizes da Meta, dona do Facebook e do Instagram, de parar com a checagem e deixar ao léu essas redes sociais, na hora, me apavorei.
Afinal, quem é jornalista e pesquisa processos de comunicação, sabe minimamente que isso é uma tragédia, ou melhor, representa sequências exponenciais de tragédias anunciadas. Isso é horrível para a humanidade por vários sentidos. Pois há indústrias produzindo mentiras, desinformação sobre diferentes assuntos, engambelando gente que quer acreditar no que é dito ou é ingênua.
Lembrei da situação que vivenciei dias atrás na praia. Enquanto fazia uma faxina na casa do vizinho, uma senhora, prestadora do serviço, ouvia um programa estranho aos meus ouvidos. Fixei atenção e comecei a perceber uns locutores falando que quem manda no Brasil é o Alexandre de Moraes e o Lula. Que é um absurdo pessoas inocentes estarem presas, entre outras coisas que nem convém comentar, sobre a data que não pode ser esquecida: o fatídico dia 8 de janeiro. Como a conhecia de vista, perguntei o que ela estava ouvindo e ela me mostrou um canal no YouTube que costumava acompanhar todos os dias.
Escrevo esse contexto, querida leitora, prezado leitor, porque se hoje o contexto está complicado, nem consigo imaginar como ficará com aquele sujeito que prefiro nem citar o nome voltando a um dos cargos de maior poder no mundo. Mas, como você que me lê sabe, ou se não sabe, sugiro que procure saber o que significa o que ele tem dito.
Quem é “da antiga” deve lembrar daquelas situações de desenho animado onde surgiam acima do personagem dois balões ou nuvens. Em um, aparecia um anjinho e, em outro, um diabinho. Pois em mim, o anjinho disse: – Relaxa, isso não está ao teu alcance resolver. Foque nos estudos, vá atrás do que interessa, faça arte, cante, corra atrás de oportunidades. Já no outro balão, o morador do inferno grita: – Agora sim, o jornalismo vai ser enterrado. Os caras vão inventar mais formas de divulgar coisas para vender e lucrar mais. E nada que for de bom que for publicado será visto, só se for pago!
Em meio a essas ondas, ou melhor, tsunamis, que temos passado de notícias bombásticas, confesso que em muitos momentos não sei onde encontrar boias, salva-vidas ou algum barquinho para me salvar dessa turbulência. Não tem sido fácil viver de produzir informações sem ter que fazer dancinha, ser escrava das redes sociais ou mesmo chamar a atenção de um tema que será decisivo para a sobrevivência da nossa espécie, como a crise climática, a falta de governança etc.
Como já citei aqui na Sler, estamos enfeitiçadas pelas telas e pelas redes sociais (no meu caso, principalmente o WhatsApp). É muito difícil soltar a coleira eletrônica. Nós mesmas nos enredamos em contextos usando esses ambientes digitais para se manifestar, para divulgar ações etc.
Mas, se por cima os balões das polaridades chamam minha atenção, o que vem do coração me impulsiona a procurar aproveitar o possível o momento presente. Tive uma ideia que deu certo dia desses. Talvez sirva para outras pessoas. Quem convive com adolescentes, sabe o quanto o trap, o hip hop, o rap, etc., os rolês com kit, o jeito de se vestir, enfim, há coisas que soam estranhas para quem curtia rock de diferentes estilos do século passado (adorava o rock progressivo). Hoje, eles – e nós também – vivemos aprisionados na bolha que o algoritmo dos streamings nos oferece, fica muito difícil descobrir coisas novas e diferentes de que poderíamos gostar. No carro, de volta pra Capital, na Freeway, lancei uma brincadeira. Colocava uma música e meu filho, de 18, e seu amigo, de 19, precisavam dizer quem estava cantando.
Comecei com o antológico Raul Seixas. E disse: ouçam o que ele canta: prefiro ser, essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo… Eles pararam e escutaram atentos. Uau! Gol, minha proposta agradou! Algo raro porque sempre a mãe não sabe de nada. Chutaram vários nomes, entre eles Renato Russo. Nunca tinham ouvido falar do Raul Seixas. Confesso que foram tantas músicas, que não lembro de todos os nomes que apareceram. Coloquei Djavan, Marina Lima, Cazuza, Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Maria Gadú, Rita Lee e até Bezerra da Silva e nada deles acertarem. Meu guri pelo menos identificou Caetano e Gil. E eu tripudiei: pô, isso é cultura geral! Vocês precisam saber quem são esses artistas.
Até que meu filho e o amigo quiseram apresentar músicas para que eu descobrisse quem estava interpretando. E aí, era eu que não sabia responder. Tive uma aula sobre o Ret, o Matuê, entre outros caras que têm feito sucesso. Citei esse exemplo porque esse momento da História está exigindo muita criatividade para superar os muros que muitas vezes julgamos intransponíveis.
Realmente, nessa dança dos dois pra lá e um pra lá, ou de pular e se empurrar, seja lá qual for, há movimentos que avançam e retrocedem. Resta saber que tipo de pista esses passos que as sociedades globalizadas comandadas por essas big techs (essas de que somos todos dependentes e escravos, como Google, Meta, Apple, Microsoft etc.) vão dar. Enquanto isso, bora tentar entender o que nos cerca, pois o tema enredo planetário está complexo demais para ser encarado.
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Foto da Capa: Gerada por IA