Mesmo trabalhando no mercado de tecnologia desde a invenção da Internet, nem de longe sou o “nerd clássico”. Além de não usar calça e agasalho de moletom combinando, nunca fui muito fã do Bill Gates.
O bilionário fundador da Microsoft mudou a nossa relação com os computadores pessoais, mas sempre me incomodou sua insistência em monetizar o copyright de todas as suas criações. Tirando isso, sei muito pouco sobre ele. Talvez o que sempre tenha me chamado a atenção foram curiosidades pontuais sobre sua relação com a mulher (agora, ex-mulher) e os filhos. Uma que gosto muito, pois tenho grande identificação é o fato de que ele manteve sempre, e independente da agenda executiva, rotinas básicas com os filhos, como buscá-los e levá-los na escola.
Mas, deixando a vida empreendedora e pessoal de lado, quero comentar a carta que ele publicou na semana passada, tratando dos movimentos em torno da inteligência artificial. Em um longo texto, ele relata algumas histórias suas com o time da OpenAI, a startup dona do ChatGPT, e muitas reflexões sobre Inteligência Artificial.
Para Gates, a transformação que teremos com a evolução da IA terá um impacto maior do que o que vimos com o surgimento dos microprocessadores, do PC, da Internet e dos smartphones. “Isso mudará a maneira como as pessoas trabalham, aprendem, viajam, obtém assistência médica e interagem umas com as outras”, profetiza o bilionário.
Como não poderia deixar de ser, o texto traz diversos casos e discorre sobre as consequências imediatas da utilização e investimentos em IAs. Como será transformada nossa relação com os assistentes pessoais, em nossa educação formal e não-formal, em nosso trabalho e, por óbvio, nas relações pessoais.
Todas as abordagens do texto são superinteressantes e pertinentes, mas uma coisa é primordial, a meu ver. A preocupação de Gates com o uso da IA é para o bem de todos, não apenas dos mais ricos.
Segundo ele, os governos e a filantropia precisarão desempenhar um papel importante para garantir que as IAs reduzam as desigualdades e não contribuam com elas. Ele alerta que “as forças do mercado não irão desenvolver naturalmente produtos e serviços de inteligência artificial que ajudem os mais pobres”, por isso é necessário intervir.
Acho que nada me faz tão bem quanto ler alguém “vencedor” – nas regras do capitalismo de mercado – ser pragmático e crítico ao próprio mercado e aos ignorantes que, dotados de um pensamento raso, idolatram os objetivos de mérito sem ponderar todos os demais itens do contexto. Para Gates, financiamento confiável e políticas certas são possíveis se governos e filantropia forem agentes da condução.
Confesso que gostaria de ouvir a opinião de Elon Musk sobre o assunto. Até porque, teremos um bilionário em cada polo do espectro humanista. Dá pra comparar seus comportamentos sobre IA, sobre gestão de suas empresas, da relação com seus filhos, com sua(s) ex-mulher (es),… e por aí vai.
Um abraço ao camarada Bill Gates.