Em 8 de março de 2018, o escritor Colin Newton publicou o artigo “O que Blade Runner 2049 pode nos dizer sobre o futuro das cidades?” (disponível aqui). Essa pergunta é aqui essencial e o autor usou o filme para tirar lições. E surpreende que, seis anos após, podemos relacionar suas conclusões com o cenário de Porto Alegre. A sequência do clássico dirigido por Ridley Scott tem semelhanças com o original em uma série de aspectos, entre eles que “K” reproduz o detetive particular Rick Deckard e Joi é a Rachel do filme original. Mas tanto a sequência como seu original não falam apenas de personagens humanos, falam da própria cidade. Diz Newton: “Na verdade, o principal elemento que não foi substituído é o próprio cenário do filme, a cidade de Los Angeles”. Em Blade Runner, a cidade de Los Angeles era um paradoxo: morta, porém vibrante, imunda, mas encharcada de chuva, superpovoada, mas em constante processo de abandono”.
Primeiro: esta descrição não é semelhante a Porto Alegre em que vivemos recentemente? A capital não se transformou nesse paradoxo urbano de que fala Newton justamente nos últimos dias? A campanha política em andamento serve como o melhor lugar para ver suas duas dimensões. Para a propaganda de Sebastião Melo, a cidade é esse lugar cheio de vida e felicidade graças as realizações de sua gestão, motivo pelo qual pede sua reeleição; para a propaganda de Maria do Rosário, é justamente o contrário pelo fracasso na manutenção do sistema de proteção das cheias, sem falar da presença de seus lixões que ainda sobrevivem com os restos da enchente que literalmente a… “encharcou”. A capital, é claro, de acordo com o IBGE, não é superpovoada, ao contrário. Nem toda realidade imita a arte, mas tenta.
No Blade Runner original, a cidade imaginada por Syd Mead e Lawrence Paul era composta pelo que seriam destroços e restos do futuro, com suas imensas camadas de canos, tubos e letreiros em neon. Diz Matt Hanson em Building Sci-fi moviescapes: the science behind the fiction (Rotovision, 2004) que “o cenário mesclava elementos arquitetônicos ocidentais das avenidas de Manhattan e do Piccadilly Circus de Londres com a vida de rua das cidades asiáticas como Tóquio ou o movimento do distrito de Wanchai de Hong Kong” (Hanson, p. 19). O que diferencia a concepção dos designers de Blade Runner dos arquitetos de nossos mega empreendimentos locais é que pelo menos aqueles ainda valorizavam o passado, da arquitetura egípcia à art déco, passando por Gaudi, entre outros. Diz Hanson que o motivo é que o diretor “não queria ângulos retos, não queria superfícies lisas”. De tudo isso, o que chama a atenção no filme original e que ecoa nas consciências hoje é a cena de abertura, a visão nebulosa e de pesadelo dos subúrbios industrializados de Los Angeles. Essa imagem ficou: o futuro é decadente, insensível e distópico.
Segundo: em termos de imagens nebulosas e de pesadelo, Porto Alegre não fica atrás de Hollywood. Com uma semana de chuva negra, a cidade ficou acinzentada e triste. Quando abria um sol, havia uma luminosidade alaranjada. Diferente de Los Angeles, a capital não é uma cidade presente na história do cinema. Na principal obra de referência sobre o tema, a única cidade brasileira mencionada é o Rio de Janeiro. Francisco Gómez e Gonzalo Pavés em Ciudades de Cine (Cátedra, 2014) dedicam nas mais de trinta cidades presentes em filmes, apenas dedicam a ela um capítulo, onde aparece como um dos lugares ideais para o cinema. Por qual motivo? Por sua riqueza de montanhas e rios e pela preservação de sua história, que tornaram justa a denominação de “cidade maravilhosa”, pois também é uma maravilha para a sétima arte. Não que Porto Alegre não tenha belezas e seu próprio cinema para falar de si, como mostrou I. Boca Migotto em Um certo cinema gaúcho de Porto Alegre: ou como o cinema imagina a capital dos gaúchos (Pragmatha, 2022). Aqui, o problema é que, infelizmente, nosso cinema não criou ainda uma imagem com força mundial como as do futuro imaginadas em Blade Runner. Agora já pode.
O problema é o que o capital está fazendo com a cidade. É ele que está transformando o cenário da capital em direção ao apocalipse imaginado pelo cinema. Você olha Blade Runner e vê que nossos empresários da construção civil locais também sonham com uma arquitetura eclética e futurística para a capital, com seus projetos cheios de vidro e muita altura. Não louvaram recentemente o lançamento de um outdoor em 3D junto a Av. Nilo Peçanha como um avanço do mobiliário urbano? A administração da cidade, que foi incapaz de trocar borrachas e parafusos que permitiriam a manutenção do sistema de proteção, faz de tudo para que grupos imobiliários construam enormes prédios de apartamentos. Nossa decadência começa no tipo de cidade que construímos. A cidade onde Deckard tenta abrir caminho em meio à multidão de Los Angeles tem seu equivalente na Porto Alegre, em que o cidadão tenta abrir caminho entre as obras do centro da cidade. Para mim, a Capital está ficando muito mais parecida com a Los Angeles futurista pela tragédia de seu desenvolvimento urbano neoliberal do que pelo fato de ser densamente povoada ou se parecer com uma Chinatown. Parece que nossos empresários querem dar a capital o mesmo ar gótico e sinistro dos arranha-céus de Blade Runner. Já se fala em construir prédios com mais de 40 andares, alguns logo ali, junto ao Guaíba, próximos de onde parte da cidade foi tomada pelas águas. Já nas vilas, vemos o entupimento das canalizações do DMAE que o Prefeito quer privatizar, o esgoto a céu aberto similar ao que vemos em Blade Runner. Porque esperar até 2049? Blade Runner é aqui!
Tudo isso para chegar ao ponto central deste ensaio. Não sou o primeiro e nem serei o último a dizer que estamos vivendo “dias Blade Runner”. A comparação é inevitável. Em Blade Runner 2049, temos a cidade de Las Vegas alaranjada e com uma zona rural cinza. Mas estas não são exatamente as cores de Porto Alegre atual, atingida agora pelos efeitos das queimadas do centro e sudeste do país? Escrevo este texto numa quinta-feira (12.9). Da janela de meu apartamento, vejo o céu cinzento, o anúncio de mais uma chuva negra e cidadãos andando nas ruas com seus guarda-chuvas. Nossa cidade já foi colorida quando a esquerda estava no poder; agora é monocromática, produto da herança do bolsonarismo com sua hipervalorização da burguesia agrária predadora e negacionista climática. Para mim, as queimadas são apenas mais um efeito retardado do bolsonarismo de nossas elites, efeito de seu desprezo pelo meio ambiente. Elas não têm respeito algum pelo mundo natural e sua ação predatória afeta o clima: a poeira que chega até nossas casas em Porto Alegre tem origem não apenas em sua ação, é claro, mas também na crise climática agravada pelos interesses da especulação capitalista. Esta é a raiz de uma insensibilidade que destrói o futuro desde agora.
O aspecto distópico visível tanto nos filmes como em nossa capital está na onipresença da publicidade. Aqui na capital, como na cidade de Blade Runner, tudo se vende. Estão na cidade os painéis dos grandes empreendimentos: a verticalização é um ideal. Já falei aqui na Sler porque sou contra ela (disponível aqui). Esse modelo de prédios com todos os serviços, inclusive supermercados, está se apresentando como o novo modo de viver. A propaganda vende condomínios onde há tudo: praça, supermercados, áreas de convívio limitadas. Isso não o assusta, você? Diz Newton: “Atualmente, os outdoors de Sunset Boulevard em Hollywood são um amontoado de propagandas infames que castigam nossos olhos. No futuro de Blade Runner, onde as megacorporações facilmente ultrapassam limites e fronteiras, pandemias de publicidade se espalham por todos os lados, atacando uma população cada vez menos interessada nestas imagens subversivas. Em 2049, os comerciais são ainda mais invasivos. No final do filme, K se depara com uma enorme propaganda do holograma Joi. Ela é, ao mesmo tempo, familiar e irreconhecível entre as outras milhares de “Jois” – destituindo o mundo de qualquer individualidade em favor de uma uniformidade avassaladora. Arrasado, K desfalece”. O crescimento da propaganda imobiliária na capital segue à risca a receita do filme: sempre cada vez mais, sempre na busca de superar o limite, com a diferença de que a propaganda da capital substitui Joi por inúmeros empreendimentos de uma uniformidade avassaladora. Nelas, a cidade fica cada vez menor: “Quer viver na cidade? Esqueça a praça. Basta viver no condomínio”.
Porto Alegre está cada vez mais próximo do futuro imaginado por Blade Runner. Se temos um horizonte homogêneo, de uma cor homogênea, é porque já estamos sentindo os efeitos da superglobalização. Não é apenas uma cultura universal que se sobrepõe a uma cultura local; é o próprio caminho que está tomando o clima no planeta que já está entre nós. Não se trata do fato de que a arquitetura de Porto Alegre já está se tornando semelhante à de qualquer outra cidade, inclusive Los Angeles; se trata de que vivemos no mesmo cenário urbano, poluído e cinzento em que vivem os cidadãos de cidades afetadas pelas piores consequências da globalização. No momento em que escrevo este artigo, São Paulo é a pior cidade do mundo para se respirar e a Prefeitura de Porto Alegre já sinalizou para seus cidadãos que as coisas por aqui não estão muito bem: as recomendações oficiais são para não sair de casa, fechar as janelas, usar máscaras, entre outras coisas. Não se trata mais de imaginar um futuro homogêneo como efeito colateral da superglobalização, mas de reconhecer que já o vivemos no presente. Para isso, basta olhar para o céu.
Mas o que é, simbolicamente, o… Céu? Slavoj Zizek, em Viver no Fim dos Tempos (Relógio d’Água, 2011), diz que o céu tem um papel muito importante no pensamento oriental. Segundo Confúcio, as pessoas vivem as suas vidas no interior de parâmetros firmemente estabelecidos pelo Céu (o que, mais do que um Ser Supremo com seus propósitos, designa a ordem natural superior das coisas, com os seus modelos e ciclos fixos). O Céu governa o universo físico através do ming ou “destino”, que está para além do que humanamente podemos compreender ou controlar, e governa o universo moral, o universo do comportamento humano, através do T’ien ming ou “Mandato do Céu” (Zizek, p. 33). Para Zizek, os efeitos da natureza são consequências da política. O “mandato do céu” confuciano é a ideia de que importa o bem-estar dos seres humanos; uma família ou indivíduo recebe o “mandato do céu” para instituir um governo que deve se preocupar com o bem-estar do povo; se deixam de fazê-lo, “o Céu retira-lhes o seu mandato e confere-o a outros”.
A análise de Zizek traz lições para as eleições que virão. Localmente, o atual governo faz parte do projeto neoliberal que colaborou para chegarmos a este estado de coisas: crise climática, devastação do meio ambiente, degradação da vida da cidade, tudo isso atende pelo nome de políticas neoliberais. Basta ver a facilidade com que o governo Melo aprovou medidas para exploração da Fazenda Arado, um patrimônio de proteção da cidade, e as medidas de flexibilização do Plano Diretor para os grandes empreendimentos. O resultado é que vivemos a mesma situação de crise de proteção social vivida na época de Confúcio. Ele também via o fracasso de suas instituições em proteger seus cidadãos. “O bom governo está no governante ser um governante, o ministro um ministro, o pai um pai e o filho um filho”, diz Confúcio, segundo Zizek. A desordem está justamente no fato de que nossos governantes não governam, não priorizam as condições de vida na sociedade, fracassam na proteção ambiental como favorecem a exploração imobiliária. Não bastou a enchente, precisou agora que o céu tomasse uma cor acinzentada e alaranjada para mostrar mais uma vez o fracasso do ideal neoliberal. Será que continuaremos a votar nos mesmos responsáveis?
O céu alaranjado de Porto Alegre teve precedentes no de San Francisco, onde se instalou, curiosamente, há exatos 4 anos. Em 9 de setembro de 2020, moradores daquela cidade e de outras partes da Califórnia, nos Estados Unidos, acordaram na manhã daquela quarta-feira também com o céu de cor laranja e a região da costa oeste coberta por incêndios que, da mesma forma, transformaram a atmosfera da região. O espanto das autoridades de lá foi o mesmo das nossas: a governadora do Oregon, Kate Brown, declarou que os incêndios eram um “evento único em uma geração” e o governador de Washington, Jay Inslee, descreve-os como “sem precedentes”. Qualquer semelhança com a defesa de Melo da enchente NÃO é mera coincidência.
Na política neoliberal, ninguém assume as consequências de seus atos. Como em São Francisco, hoje, as imagens do céu foram associadas a filmes de ficção científica como Blade Runner. Na época, o articulista Matt Novak, em seu artigo “O céu alaranjado de San Francisco é exatamente o futuro distópico de Blade Runner” (disponível aqui) fez o prequel da situação atual. Já era tempo de termos aprendido com os efeitos devastadores dos incêndios dos demais países a atuar contra suas causas. A fumaça provoca não apenas uma crise sanitária, mas uma atmosfera estranha: a sensação de que já estamos vivendo em um futuro distópico. A atmosfera que cobriu São José do Rio Preto no final de agosto é apenas a continuação de outra que, em agosto de 2019, transformou o dia em noite em São Paulo.
Para Novak, essa é mais uma prova de que “o mundo por agora está de cabeça para baixo”. Os motivos são o crescimento das mudanças climáticas combinadas com políticas negacionistas como a do governo Bolsonaro, que fazem com que estejamos vivendo a história de forma surreal. Leonardo Martins, em “Blade Runner e as lágrimas na chuva: o cyberpunk como metáfora do presente” (disponível aqui) lembra que Blade Runner começava com a indicação de um lugar e uma data “Los Angeles, novembro de 2019” no início do clássico filme de 1982. Aqui, meu título, Porto Alegre, setembro de 2024, o imita para mostrar que já vivemos os efeitos de um capitalismo corporativista pós-moderno com a predação do ambiente natural, o abuso de telas pela cidade e o uso das tecnologias como instrumento de acumulação de capital – o Uber. O céu alaranjado e cinza é a comprovação de que o país está contaminado pela poluição, produto da exploração desenfreada da natureza. Aqui, a burguesia não está interessada em colonizar novos planetas como no filme, se satisfaz com a exploração da Amazônia, mas em ambos contextos, deixam os restos e efeitos de sua exploração para sua escória, nós, os pobres e classes médias que vivem nas cidades e de onde somos incapazes de fugir.
Martins como Newton lembra que no filme a superurbanização é a vilã da história. Estamos tendo um test drive do futuro de Blade Runner. Nossos “empreendedores urbanos” sonham com a superurbanização como sua fonte de lucro, mas isso só transforma Porto Alegre em um lugar de prédios monocromáticos, exatamente da mesma cor que toma conta da atmosfera.
Graças às queimadas, a capital vive um clima depressivo. Tornou-se o que realmente já estava a caminho, uma cidade fria. O Porto Frio substitui a Porto Alegre. Na cidade em que o sistema capitalista corporativista exerce sua dominação, não existe a alternativa da vida nas colônias extraterrestres de Blade Runner. Para mim, o que aprofunda a depressão é que sequer temos a trilha sonora de Vangelis: se existe aqui uma trilha de filme, está mais para o sertanejo universitário (risos) que transforma mais uma vez a cidade em cenário de filme catástrofe. A reverberação sonora presente no filme não é necessária: basta ouvir o barulho ensurdecedor de nossas ruas. Moro na Rua Bagé, no Bairro Petrópolis. Há vinte anos, quando aqui me instalei, era uma rua silenciosa e tranquila. Hoje, com os inúmeros novos lançamentos de prédios ao redor, as casas de uma arquitetura antiga são destruídas para dar espaço aos grandes lançamentos e o barulho é ensurdecedor. Passam por aqui dezenas de carros de todo o tipo. Impossível dormir. É o mesmo clima de que fala o autor, “um ambiente grave e fechado, gerando um tom de mistério, paranoia e distância, sentimentos estes que combinam com o peso emocional do filme”.
O que a cidade está vivendo é parte da conjuntura histórica de destruição de nossas florestas representada na ação do grande capital fundiário. O retrocesso social de Blade Runner tem um complemento no retrocesso climático, o crescimento econômico é, ao mesmo tempo, decrescimento da ordem natural. Jean Marc von der Weid em “Queimadas: o agronegócio acende o fósforo” (disponível aqui), diz que se trata da mais espetacular estação de queimadas da história do país, que supera o Dia do Fogo de 2019 ou o Mar de Chamas de 2004. Vivemos queimadas desde a ditadura militar que viraram rotina, se expandindo da Amazônia ao Pará. Weid diz que os “rios voadores”, os ventos que trazem a umidade da Amazônia para irrigar o Centro Oeste, se transformaram em veículos do transporte da fumaça negra. Há diferentes focos de incêndios e diferentes causas que devem ser analisadas caso a caso. “A suspeição de crime é estimulada pelas imagens de satélite, mostrando o surgimento de centenas de focos de fogo na região de Ribeirão Preto em um curtíssimo intervalo de tempo (horas). Além disso, circulou um vídeo de um caminhão de uma usina de açúcar e álcool, acompanhando trabalhadores uniformizados que incendiavam a palha seca sob os canaviais com o uso de maçaricos. A intenção criminosa parece comprovada, mas quem são os culpados?”, pergunta Weid. A verdade é que as queimadas fazem parte do agronegócio da Amazônia, Cerrado e Pantanal, um problema de saúde pública para as populações que vem se intensificando “Em anos de queimadas um pouco mais intensas, a fumaçada provoca a suspensão das operações de pouso e decolagem nos aeroportos destas regiões e as notícias no “sul maravilha” são mais frequentes. Mas, nos anos das grandes queimadas, que vêm se tornando cada vez mais frequentes, é a fumaça nos narizes e pulmões de paulistas e fluminenses que faz a notícia ser manchete”. E dos porto-alegrenses também, eu completo.
Todos sabemos do que se trata, mas ignoramos a necessidade de agir. O problema, diz o autor, não está nos problemas de saúde pública que as queimadas causam, mas na eliminação das florestas tropicais em escala de milhões de hectares, o que de fato afeta o clima local e do planeta “nosso clima está mudando e estamos assistindo, nos últimos anos, a uma sucessão de ondas de calor e secas mais intensas e extensas (em área atingida e em duração). O regime de chuvas, no Sul e no Sudeste, altamente dependente dos “rios voadores” (chuvas originadas na evaporação na região Amazônica e carregadas pelos ventos), que se tornou errático, com precipitações concentradas em algumas áreas (veja o caso mais recente do Rio Grande do Sul) e estiagens prolongadas no Sudeste. A agricultura do agronegócio já está fortemente afetada por este “novo normal” e as previsões são catastróficas para o futuro“. A causa, segundo o autor, está na falta de oposição às medidas que destroem os biomas nacionais e que beneficiam apenas a pecuária do Norte e Centro Oeste, nos termos de ajuste de conduta com grandes frigoríficos sem efeito e o apoio, inclusive do atual governo, ao agronegócio na Amazônia, Cerrado e Pantanal, que comprometem o futuro da agricultura, principalmente a familiar. Neste momento, agir significa eleger governantes comprometidos com a causa ambiental e social.
Finalmente, voltamos aqui a Blade Runner justamente porque, em nossa realidade, como no filme, a cor do céu revela que há um conflito de interesses no ar. Lá como aqui, por trás da evolução tecnológica e dos interesses econômicos, há sempre a perspectiva de luta entre ricos e pobres. Onde o filme coloca a luta entre Replicantes e Humanos, a realidade da chuva negra mostra em lados opostos o agronegócio e os cidadãos: a propaganda do “agro é pop” é apenas uma ferramenta de alienação social para manter esta ordem. Se as imagens do filme Blade Runner e de Porto Alegre da chuva negra têm algo a nos dizer, é que a imagem de nosso céu cinzento é a prova de que somos afetados pelas consequências do tipo de sociedade em que vivemos, que afeta a nossa vida e a nossa história. A eleição é uma das oportunidades de mudar isso.
Foto da Capa: Freepik / Gerada por IA
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