Quarta-feira e eu aqui ainda curtindo a vitória da Libertadores e já ansiosa pelo resultado do Campeonato Brasileiro. Se você já ficou de pé em uma gangorra, aquele brinquedo dos parquinhos, sabe bem o que é buscar o equilíbrio. Assim estão nossos corações: embriagados pela alegria, mas conhecedores da agonia.
Nunca vi tanto botafoguense se assumindo em toda minha vida. Tá igual ao Papai Noel em Gramado. Você chuta uma pedra e sai um lá de baixo. Vira a esquina e tem outro. Olha para o poste, lá está ele de novo. É botafoguense que não acaba mais. Mas tá bom! Deixa a gente aproveitar esse momento de glória. Eu mesma levava a estrela solitária um pouco apagada aqui dentro e agora ela está brilhando que é uma beleza! Nosso bloco tá na rua em pleno mês de Natal. Tá bonito! São tantas histórias, tantos depoimentos, tantas manifestações de carinho. É riso e choro. Grito e silêncio. Ser botafoguense é muito mais do que torcer para um time.
Eu desconheço uma família, que não é do Rio de Janeiro, com mais botafoguenses do que a minha. Não sei a razão. Tios, primos, irmãos, sobrinhos, agregados e já desagregados. Os que ainda estão por aqui e os que já se foram. Somos muitos. Cheguei a fazer uma enquete no grupo do WhatsApp, mas ninguém sabe ao certo como começou. Somos porque somos. O certo é que, na época em que a família se instalou em Brasília, na década de 60, a opção era torcer para os times cariocas. Uns penderam pelo Flamengo, outros pelo Fluminense, contudo os mais legais, inteligentes e “gente boa” viraram botafoguenses. Tá declarada a guerra na família.
Por falar em guerra, hoje o alvinegro enfrenta o colorado. Sem querer colocar fogo no parquinho, mas já riscando o fósforo, nem é preciso dizer nada, né, gremistas?! Ou vocês vão torcer pelo time da casa? Eu deixo claro que só trocaria o preto e branco pelo preto e azul.
Voltando à final de sábado passado, passei por uma experiência inusitada aqui em Cascais. Depois de procurar muito, encontrei um lugar onde iriam passar o jogo. Quando cheguei, o jogo já tinha começado, um jogador já tinha sido expulso, as redes sociais estavam em polvorosa e a TV do lugar estava desligada. Com jeitinho, expliquei a situação e pedi pra ver o jogo. Ganhei cadeira exclusiva bem na frente da tela. Serviço exclusivo também. A razão do paparico? Só eu estava ali pra ver o jogo. Solitária igual à estrela do meu time. Torci sozinha, gritei – baixinho – sozinha, me emocionei sozinha. Não tinha com quem discutir nenhum lance e nem tirar minhas dúvidas de torcedora não profissional. Por acaso, apareceram uns flamenguistas, mas intuio que não tínhamos os mesmos interesses. Como disse Mario Quintana no Poeminha do Contra:
“Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão…
Eu passarinho!”
É tempo de Botafogo!
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