Vitor André Rolim de Mesquita é designer gráfico, editor e diretor da Pubblicato Editora. A gente se conheceu através da jornalista Adriana Martorano, que indicou a Gira para divulgar um trabalho que a empresa dele e da Andréa, companheira e sócia, estava fazendo. Ao chegar ao escritório, vi na mesa uma revista chamada URBE e me encantei com a capa, o conteúdo, tudo. Uma produção deles. Conversamos muito e fizemos uma parceria incrível, que se desdobrou em muitos trabalhos, incluindo a edição do meu livro.
Fiquei sabendo do projeto deste livro do Vítor bem antes do meu. Li os primeiros escritos dele e me apaixonei. Até porque tive uma relação muito boa e desafiadora com o avô materno, que me criou, e com o meu pai, com quem convivia muito, mas não morava junto, e me identifiquei em muitos momentos narrados pelo Vitor. As conversas instigantes, as críticas, as emoções tão diversas. Encontrei um pouco dos dois, avô e pai. Com um e com outro sempre dividi admiração, respeito, carinho e discussões que me estimularam para a vida que se descortinava.
O ponto de partida do livro, que mistura com rara sensibilidade, afeto e ficção, é a morte do pai e a relação que os dois tiveram
Os diálogos entre os dois sempre foram afiados e intensos, tanto os reais quanto os imaginários, como se o pai ainda estivesse presente. Ao longo da leitura, percebe-se uma costura que vai enlaçando as memórias de uma família grande e afetiva, a dor da perda, o luto, a ausência e as intermitências da vida fustigadas pela emoção e pela imaginação. E, aos poucos, com o andar da leitura, vamos sendo levados para legendar o tempo em um calendário obrigatório de outra ordem, a ordem da falta. “O vazio atinge firme e forte. Tem sua própria hora. Não é algo para ser resolvido: nunca será. Talvez, apenas visitado em certos dias que parecem sem bordas”, escreve o autor.
Acabei presenteando algumas amigas com o livro para dividir a intensidade das reflexões, algumas contundentes, que Vítor e o pai trocavam. Como esta: “Temos a pretensão de durar para sempre. Não falamos sobre a morte e vivemos distraídos da própria vida, a cotidiana”. E eu, que normalmente chego antes do horário marcado nos encontros, me encantei com esta: “Tem dias que a única urgência é um bom café. Permita-se um bom café e cinco minutos de atraso. O mundo vai sentir sua falta. Sempre. Mas o mundo não sabe que você existe”.
Vamos ao bom café, então! Se for possível, acompanhado de uma boa leitura, enquanto temos tempo. O livro “Botas Batidas – suspeitei que falasse de toda a vida; e, assim, me conto o que está próximo” tem 164 páginas e pode ser comprado no site da Pubblicato, com taxa de entrega nesse link.
Especializada na criação, planejamento e execução de produtos editoriais e de comunicação, a partir de diferentes abordagens de conteúdo e design, a Pubblicato Editora foi criada em 1999 por Vitor Mesquita e Andrea Peccine da Costa. O foco é voltado para áreas da publicidade, marketing e cultura. Entre os livros já editados que li e recomendo estão Vitor Ramil: nascer leva tempo, de Luís Rubira (2015); Cavalos e Armas, de Gustavo Machado (2018); O Bonsai e a Libélula – Luto, Amizade, Superação, de Ana Lúcia Rebout (2019); Entre a estatística e a medicina da alma – Ensaios não controlados do Dr. Pirro, de André Islabão (2019); o meu livro E fomos ser gauche na vida (1ª edição/2020 – 2ª edição/2022), além da premiada revista URBE, que trazia ideias, interpretações e artigos sobre o espaço urbano e seu uso criativo, cultura visual e contemporaneidade. Uma revista que me inspirou muito para escrever sobre cidades logo que lancei o blog “Isso não é comum” em 2016, hoje hospedado no site da Gira Produção e Conteúdo.