Que o Brasil não é para amadores já nascemos com esta consciência, mas ela tem se revelado numa velocidade exponencial nos últimos 08 anos. O mesmo Brasil que tem a força da reinvenção da sobrevivência, hoje faz escalada veloz para o conservadorismo de valores que não se manifestam nas atitudes, e muitas vezes brigam entre si…
O fato é que com os resultados do pleito geral de 2022, vimos um Brasil dividido disputando voto a voto com uma narrativa bem engendrada de moral, família, deus, e o tal medo de um comunismo que não existe em lugar nenhum.
O Brasil mistura sua história colonizada, escravocrata com fundamentalismo religioso, um discurso elitista que consegue colar no pobre remediado que o faz pensar que é rico… e que está tudo bem a inflação subir, a fome aumentar, a violência tomar conta…afinal existe um inimigo, ou melhor vários inimigos acima disto tudo: o inimigo é quem não pensa igual validando o messianismo.
Este Brasil ao mesmo tempo pula carnaval, mas como indústria, usa drogas nas favelas e periferias e depois reclama de tráfico, desce até o chão se acabando num Funk desde que seja no asfalto, organiza sua corrupção em uma teia de apoiadores, valida a venda de corpos e da prostituição desde que seja tudo velado… tudo dentro do grande esquema de invisibilidade, uma vivência simbólica do que se burla, do que se vive e não se posta… afinal o cidadão de bem tem sua ética e imagem.
E aí entra este Brasil que os meio tradicionais não medem… não foram as pesquisas que deram errado… foi a falta de chegar para perguntar o voto onde a campanha que teve validade foi feita: o Tik Tok, o Zap, o Kawai, o telegram e a exposição de um voto que muitas vezes envergonha frente a tantas celebridades se manifestando… Na intimidade da urna são as pessoas, seus valores e sua real visão ética da vida em sociedade.
A eleição demonstrou que para o eleitor bolsonarista não existe política ou economia… afinal como explicar pessoas pobres abraçando uma política que enriquece os mais ricos? Isto é irrelevante neste cenário mesmo que a fome aperte, que o preço suba e que o posto de saúde não atenda… O que importa é uma disputa narrativa de moralismo que se baseia na crença de uma segurança em rebanho. O fulano é ladrão, quadrilha… e a rachadinha rolando solta do outro lado … mas eles não se relacionam com isto. Ignoram… recebem pelo zap que existe uma grande trama conspiradora e que fazem parte de um grupo privilegiado que sabe a verdade. Está aí a liga maravilhosa do extremismo. Ser parte de uma verdade exclusiva.
Hoje vimos sair das urnas uma bancada federal bolsonarista: senadores eleitos… um até que foi flagrado ao vivo em ato libidinoso no facebook… mas isto não importa. O que importa é um Brasil com deus acima de tudo…
Tecnicamente, as votações bolsonaristas estão concentradas no Sudeste e no Sul, compostas por estados de grandes diferenças, compostas com grandes metrópoles, onde este mesmo Brasil se tensiona e se experimenta na vivência de uma extrema direita em confronto com gigantescas demandas sociais.
E as maiores votações de apoio ao lulismo (porque vejo algo mais personalizado do que um petismo espalhado e fundamentado) nos estados do norte e nordeste. Segundo uma mensagem de zap: “o povo que sentiu a fome no estômago mostrando a realidade do país.”
Mesmo que Bolsonaro perca no segundo turno, o bolsonarismo se ampliou e conquistou vagas no Senado e na Câmara. No meu estado, o RS, o candidato que fez vídeo de campanha dizendo “Não vão mexer com nossas crianças”, indicando a tal “ideologia de gênero”, foi para o segundo turno.
Mas, mesmo assim, emplacamos resistência e acredito que tudo que estamos passando só pode ser para amadurecermos como povo. Existirá resistência em cada estado deste país, mesmo no Sudeste onde SP elegeu um senador astronauta reacionário, e ao mesmo tempo a deusa ultra progressista Erika Hilton, a 1ª mulher travesti na Câmara Federal do país.
As forças são antagônicas e estarão a prova nos próximos 4 anos. E um recado aos bolsonaristas: as forças não estão desproporcionais. Lula venceu no 1º turno. Um recado duro para quem gosta de hegemonia.