1 – Nesta semana estou no Brasil, depois de muitos meses, para três atividades na Feira do Livro de Taquara, promovidas pelo SESC, esta engrenagem capital para a arte em nosso tão extenso território.
2 – Uma passagem rápida, que não me permitirá medir a febre do país que deixamos há quase três anos.
3 – Aos poucos, sei mais das coisas daqui, o que não permite nenhuma previsão: é da América Latina vivermos em um eterno parque de diversões, com brinquedos rotos e perigosos.
4 – Ao final dos anos 1980 havia uma montanha-russa sinistra ao lado do Gigantinho. Os carros pareciam prestes a se desmanchar e era preciso confiar nas leis da física para ficar preso ao assento: não havia cinto de segurança, travas, nada, apenas um corrimão lateral de ferro cromado.
5 – Envelhecemos nesses carrinhos.
6 – Em Taquara falarei de poesia, a poesia como uma forma de vida.
7 – A unidade superior a do poema é a da vida, dizia Lausberg.
8 – Por mais complexo que seja um poema, ele sempre traz uma nova ordem à experiência, de algum modo preservando-a, expandindo-a.
9 – Viver a poesia é encontrar um mecanismo verbal capaz de simular os instantes em que sentimos a vida maior que a vida, por exemplo, os dedos cravados na areia enquanto umas gaivotas baldias brigam por umas carcaças de peixes que os pescadores em algaravia lançam ao mar. Esses instantes em que estamos vinculados ao corpo do mundo por nossa sensibilidade, imaginação, razão, sentidos e emoções.
10 – A associação do poema a seus aspectos formais — metro e rima, ou a temas antigos vertidos em vocabulário pomposo, contribui, em muito, a fazer da poesia um equívoco, perpetuado, com sorte, por professores que não entendem ou não amam a lírica, em especial a moderna, e o modo como aproximou a fala dos versos à fala cotidiana e corrente.
11 – É, para mim, uma oportunidade de alegria falar dessa paixão. Creio que há mais coisas que nos unem do que nos separam. E muitas delas habitam o coração desses momentos de vida maior do que a vida.
Foto da Capa: Gerada por IA / Freepik
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