1 – As manhãs frias de verão trazem boa fortuna.
2 – Não está no I-Ching, mas poderia.
3 – Se o verão pudesse ter manhãs assim, seria mais fácil suportá-lo.
4 – Com o peso artificialmente valorizado, os argentinos estão loucos. Tudo de que falam é ir ao Brasil y pasalo lindo.
5 – No X havia esses dias uma comparação do que se gastaria para passar uma semana na costa atlântica, em especial Mar del Plata e uma semana nas praias paradisíacas do nordeste brasileiro. Ou mesmo do Rio.
6 – Nossos pacotes, com avião incluído, saem 20% mais baratos. Com a desvalorização brutal do real frente ao dólar, já deve estar em 30%.
7 – Na mesma publicação, na parte dos comentários, grassava o delírio e a desmedida.
8 – Uma dizia: Já posso me ver em Copacabana, mar adentro, esperando o garçom me trazer uma caipi bem gelada.
9 – Outra falava em quantos chinelos Havaianas e Coca-colas ia comprar.
10 – E ainda outra que só tentava cantarolar com la-la-las a Aquarela do Brasil.
11 – Eu acho engraçado. E mesmo que tenhamos de passar o verão no forno de Buenos Aires, falsamente comparada a Porto Alegre — uma estação do inferno não só pior que Taquara — fico contente que os argentinos possam aproveitar as praias brasileiras. Torço a cada dia por uma integração verdadeira do continente, como tantos antes de mim.
12 – Noto, contudo, neste episódio, uma característica forte dos portenhos, não dos argentinos, que é o ressentimento. Nos anos em que receberam muitos turistas brasileiros aqui, faziam-no à espera de uma revanche. Ofendia-os frontalmente a ideia de que a Argentina pudesse estar barata. Parece preferirem pagar caro pelas coisas todos os dias para ter uma semana ao ano de desbunde no exterior. De vindicação sei lá do quê.
13 – Tchekhov dizia, num de seus conselhos de escrita, que também podem ser conselhos para a vida: “Testemunha, não juiz”.
14 – Em uma canção do Cohen há uma linha parecida: “Você nasceu para julgar o mundo/ mas, me desculpe, eu não.”
15 – Não serei eu quem dirá ao sonhador da caipi que ele a tomarái inflacionada, senão batizada com uma cachaça indigna de nota.
Todos os textos de Pedro Gonzaga estão AQUI.
Foto da Capa: Rovena Rosa / Agência Brasil