1 – Por vezes considero que quanto mais vago é um conceito, mais efetivo ele se torna.
2 – A sociedade, o mercado, a política.
3 – Quanto mais chamativo é o uso desses espantalhos para ocultar o enorme vazio dos campos ao redor, maior destaque o usuário dos termos dá aos artigos que os precedem.
4 – Reparem. “A” sociedade precisa aceitar as mudanças. “O” mercado deve regular as relações humanas. “A” política necessita de novos agentes.
5 – São vogais denunciadoras. No singular ou no plural. “Os” brasileiros tal coisa. “Os” argentinos tais outras. Trata-se de uma ênfase para encobrir um oco. Que sei eu dos brasileiros, exceto esta língua que sequer nos une em suas diferenças. Poderia dizer coisas desabonadoras de muitos argentinos, mas, para além do chiste, ou do tengo, devo dizer que os argentinos são cambalacheiros?
6 – Reparem.
7 – E depois dos artigos totalizantes, o conceito frouxo. Que é sempre uma solução e não um problema, como todos os bons conceitos terminam por ser.
8 – A pressa de uma solução. Suponho estar aí um alerta. “As” redes são velozes. Mas a quem, senão ao emissor, interessa a tirania da velocidade?
9 – Um bom conceito sempre lança luz e sombra sobre aquilo que busca definir.
10 – O conceito frouxo se petrifica em um slogan, em um discurso que pede (ou reclama) uma adesão.
11 – Frouxo, mas com uma capacidade de se petrificar aparentemente contraditória.
12 – É uma pedra colada às pressas, como uma arma prática, a primeira coisa que se revela ao alcance da mão.
13 – Em raros momentos, depois de muito matutar, entendemos parte de alguma coisa em sua inexpugnável mineralidade. E ainda assim será um equívoco se ufanar, pois, como alertava São Paulo, nosso conhecimento é sempre parcial e imperfeito.
14 – Mas o sujeito que mais parece um robô vocifera na tela dizendo que sabe o que os outros não sabem, que vai transformar o país e o mundo com seu exército de espantalhos.
15 – Em alguns minutos, contei dezesseis artigos totalizantes.
16 – Reparem nos artigos definidos.
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