1- Olhei sempre com reservas para o culto da energia jovem na arte. Em especial na música.
2- Queimar como gasolina. A bruta certeza, a acelerada destruição. Morrer ou não saber envelhecer.
3- Imagine os Beatles só Twist and Shout, o Dylan apenas folk.
4- Gosto de imaginar como seria um disco do Buddy Holly aos cinquenta. Teria ele uma segunda água?
4- Meus artistas favoritos são sempre artistas que alcançaram sua versão madura: Leonard Cohen, Joni Mitchell, Johnny Cash. O próprio Dylan.
5- Menos energia, menos certezas. Mais espaço para o tempo operar suas mudanças.
6- Sem isso, há a sina da repetição desgastada. Rolling Stones, Madonna.
7- A proeza não da velocidade, mas da resistência.
8- Evito dizer sabedoria, porque não sei se se trata disso.
9- Me parece mais um entendimento do corpo. Alimentar-se de uma energia mais densa.
10- O que Nick Cave, por exemplo, tem descoberto e explorado.
11- Há beleza, sim, no desperdício, no muitos de tudo da juventude, as altas cargas de certeza hormonal. A celebração, estúpida e deliciosa, da libido.
12- Mas há uma gravidade doce nos frutos maduros. Que não precisa necessariamente de uma idade avançada, mas de um maturar avançado: o último Coltrane (alcançado antes dos quarenta), o Stevie Wonder dos meados da década de setenta, quando ainda era jovem.
13- Os mesmos Beatles de que falamos.
14- Ponhamos compreensão. Sabedoria é coisa por demais definitiva.
15- Sabedoria tem um que de canônico.
16– E o canônico em vida é a morte do artista.
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Foto da Capa: Leonardo Cohen / Divulgação