1 – Quando lembrarmos dos anos portenhos, estará sempre o fim de abril entre suas melhores épocas.
2 – É o tempo da Feira do Livro, no complexo La Rural. Mas é também o outono, com suas manhãs já frias, raras chuvas e as praças bronzeadas pelas folhas no chão.
3 – E de passagem digo que há certa indisposição com o outono que nunca entendi fisicamente. Sei das metáforas e da simbologia, que percorrem as culturas humanas. O outono de nossas vidas, a antessala do inverno, ou seja, da morte.
4 – Todo esse jazz. De uma perspectiva sensorial, no entanto, o outono é gentil em suas cores, seus aromas, no clima, na luz.
5 – Mas voltemos à Feira, nossa quarta edição desde que chegamos.
6 – Em função da política cambial do desgrenhado amigo do FMI, os preços dos livros novos estão proibitivos. A distorção é tanta que livros importados da Espanha costumam ser mais baratos que os locais. Só para uma ideia em valores brasileiros, um livro de 120 páginas não sai menos de 100 reais.
7 – Por sorte há os saldos, onde sempre se encontra alguma maravilha.
8 – Acima de tudo é um excelente passeio, que recomendo a quem puder vir à cidade nesta época. Nem falo da presença de escritores estrelares, como Rosa Monteiro, Arturo Pérez-Reverte e também a nata da literatura argentina.
9 – Uma ideia muito boa, que no caso da feira de Porto Alegre, que é aberta, seria difícil de implementar, é que se recebe um vale que é o dobro do valor do ingresso para ser utilizado depois que a feira termina, nas livrarias aderidas pela cidade, o que estende o efeito das vendas por mais dois meses.
10 – Com mais uma edição da poesia do Kaváfis que ainda não tinha, e a Tainá com uma bela versão ilustrada do I-Ching, nos acomodamos na arquibancada da arena da Rural, com suas imponentes arcadas.
11 – A garrafa d’água na barraquinha ao lado custa 17 reais, mas é outono na Capital Federal.
Todos os textos de Pedro Gonzaga estão AQUI.
Foto da Capa: Gerada por IA.