1- A menina quase gótica consola o rapaz grandalhão que chora de cabeça baixa ao seu lado no banco. Dá-lhe uns tapinhas no ombro.
2- É noite, faz frio, e cruzo o Parque Las Heras para encontrar meu amigo Rafa Bassi, que leva o Leonel a passear.
3- Nunca tomei um fora num parque. Nunca terminei com ninguém num parque. Não sei se é melhor ou pior, se a menina quase gótica o fez por uma questão de segurança, por praticidade.
4- Se aproveitou uma dessas janelas em que é possível dizer o fim.
5- Terminei e terminaram comigo em parques, diz o Rafa, enquanto evita que o mediano e gordo Leonel queira avançar sobre cães enormes que o ignoram solenemente.
6- À distância, os dois jovens seguem sentados no banco. Dois pássaros inábeis. E que difícil terminar, mesmo quando a relação vai mal, mesmo quando os dois podem querer o término. A intimidade é um bem precioso quando partilhado, também é um bem que se torna raro neste mundo de feéricas ofertas.
7- Vale para o amor, para a amizade, para quaisquer relações em que é possível depor as armas.
8- Penso em todas as coisas que só a Tainá sabe sobre mim. E celebro esta sorte, este laço, até um rosnar do Leonel me devolver à realidade canina da noite portenha. Acabava de passar um galgo.
9- Os dois ainda estão lá, aponto-os para o Bassi.
10- É comum aqui chorar em público, ele pergunta.
10- Bastante. Está institucionalizado.
11- Seguimos em frente com um assunto não menor: a etiqueta da despedida. Quanto tempo até que ela se levante sem parecer insensível? E ele deve apelar neste momento?
12- Volto-me uma última vez. Ainda estão lá. E agora está um pouco mais frio.
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Foto da Capa: Reprodução Redes Sociais