- De volta ao Brasil, descubro que minha mãe se tornou o grinch da Copa.
- Onde estão minhas notícias? Tiraram até a previsão do tempo. Agora é só o futebol moleque.
- Como se Porto Alegre em dezembro precisasse de prognósticos climáticos: ou chove e faz trinta e cinco graus, ou há sol e faz trinta e cinco graus.
- Não assisti ao filme do grinch, mas sei que era uma criatura verde, talvez interpretada pelo Jim Carrey ou pelo Adam Sandler (como quase todos os filmes da Sessão da Tarde), cujo principal objetivo era arruinar o natal de todos, segundo o trailer.
- Anos atrás alguém me disse que eu devia procurar essas informações no google antes de escrever coisas imprecisas. Eu procuro, mas não sem antes ter escrito o que precisava. O que a memória erra é matéria humana imprevisível.
- A ideia de um bicho ranzinza contra a alegria geral, no entanto, já me era suficiente e passei a adaptar esta função às mais variadas circunstâncias, porque em algum lugar, todos somos ou fomos uma forma de grinch. Nos amigos secretos, na virada do ano, nos requebros do carnaval.
- Ou na Copa. No meio da tarde descubro que a revoltam um pouco mais os jogos entre seleções intermediárias, como o glorioso match entre Sérvia e Suíça, que a tevê anuncia.
- Depois da sesta, eles capricham. Põem os piores times com os piores comentaristas.
- Penso em lhe explicar os chaveamentos e a razão dos horários, mas levaria uma carraspana. Ela há anos só torce para a seleção turca por causa de uns galãs musculosos de novelas mais longas que a vida.
- Para a Turquia eu torceria. (Uma dessas frases que mesmo no contexto são difíceis de acomodar.)
- Em 2002 tinham um bom time. Mas é mais fácil tomarmos um café ou falarmos dos cauã reymonds de Istambul do que do futebol de vinte anos atrás.
- Fico chuleando para que não apareça o menino/jovem/adulto Ney. Para ela, este é um daqueles gatilhos que fazia os olhos do Bruce Banner mudar de cor na antiga série da minha infância.
- De todo modo, dia 18 está logo ali e uma coisa é certa para a final: serão trinta e cinco graus em Porto Alegre.
- Eu sou o grinch do verão. Dos grinchs, o mais derrotado.