- É uma semana de deixar descansar os demônios. Então riamos, mesmo que já não sejamos jovens.
- Eis o começo: O brasileiro não tem maturidade.
- Ia me explicar, mas.
- A anedota a seguir basta.
- Estávamos lendo T. S. Eliot, na oficina do poeta Fabián Casas, que acontece ao longo do ano na bela sede da livraria do Fondo de cultura, quando a voz da Canção de amor de J. P. Prufrock pergunta: Me atrevo a comer um pêssego?
- Um colega colombiano começou a rir e disse que por lá a fruta tem uma conotação sexual. Juntando-me à farra, disse que para nós brasileiros todas as frutas, verduras e leguminosas têm insinuações sexuais ou podem vir a ter, a depender de nossa chalaça sempre imberbe. Os locais ficaram a me olhar, mas por quê?
- Porque não temos maturidade.
- Banana, pepino, berinjela são falos que arrancam risinhos até de adultos há muito grisalhos. Neste quesito, os homens parecem não amadurecer nunca. As mulheres são mais safas, mas não infensas. Mamão, em especial o papaya, mais de uma vez foi dublê de vulva em montagens amadoras de teatro bonfiniano ou cidadebaixense.
- Se a fruta é redonda e pode remotamente se parecer com seios, está perdida: melões, limões, mesmo pitomba (usada por Chico Buarque).
- Ademais há as expressões anacrônicas (espero eu): dar mais que chuchu na serra, ali é como melancia gelada, não se come sozinho, e outras fanfarronices do repertório pátrio.
- Se é preciso chupar, bem, que o diga a manga. Os mais antigos (não sei se valia lembrar) acusavam os homossexuais de não gostarem da fruta.
- Não temos jeito. É atávico, incorrigível, extraterritorial.
- E aqui, como o velho padre Vieira, prego a mim mesmo também, acuso-me antes.
- Havia um cartaz perto de um restaurante em que costumávamos almoçar, contra o qual não tínhamos, nem Tainá, nem eu, a maturidade exigida para a ele resistir. É um pertencimento que constrange e diverte, a depender da circunstância, mas que sempre é mais forte do que nós.
- Tratava-se da propaganda de uma vinícola, em terra de cultivo alto. E aqui há a chance de vocês mesmos testarem sua brasilidade.
- Subiendo la vara desde 1798, dizia o cartaz.
*Texto original publicado aqui em 26 de outubro de 2022