1. O carnaval em Buenos Aires é um feriado silencioso, ao menos para padrões brasileiros. E também, nesta manhã de terça-feira gorda, brando. Depois de duas semanas de horror porto-alegrense, o calor cedeu, e esta crônica é escrita a benfazejos 13ºc.
2. O presidente acaba de chegar de uma viagem à Europa e a Israel onde
3. Cantou
4. Dançou
5. Chorou nos braços do Papa. Não há aqui uma lagoa Rodrigo de Freitas.
6. O Papa. Que é argentino como Messi. Assim como a inflação mensal de dois dígitos.
7. E agora seguir, sem congresso e sem governadores. É um carnaval silencioso, mas longe de ser desanimado.
8. Meu modesto e irrelevante ponto contra o carnaval tropical é o suor. Há gente que gosta do calorzinho, ai, que calorzinho, papito, e gente feliz perto de muita gente. E suor. E ziriguidum e música alta e mononucleose. Salvo isso, é uma festa fabulosa.
9. E a economia agradece. E atrás da verde-rosa só não vai quem já morreu. E o samba. A maior invenção brasileira. Eufórico e triste e malandro e hierático e desbragado e conciso. E tanto além disso nas vozes de seus grandes intérpretes.
10. A existência do samba justifica o carnaval suado pelos milênios dos milênios.
11. O presidente já está na Quinta de Olivos, diz o apresentador, uma espécie de Granja do Torto deles. Noto um certo louvor em sua voz ao anunciar a manutenção da augusta agenda no dia de feriado. Talvez uma solidariedade orgânica por estar escalado para aportar seriedade a uma série de fatos diversos: um vídeo de Tik Tok da polícia de Chaco, chamando os motoristas a não beberem; um escândalo entre uma celebridade e um jogador de futebol altamente esquecíveis; o beijo chocho da Taylor Swift em seu namorado na noite do Super Bowl.
12. Quase tenho saudades dos bastidores do carnaval da RedeTV. A batucada ao fundo indicava que a vida é burlesca. Que ao fim um tapa-sexo é menos ridículo que a estatística da seriedade dos canais oficiais. Ou oficialistas.
13. Nosso canal vem conferindo seriedade a uma infinidade de pelotudezes há trinta anos.
14. O termômetro no canto da tela marca agora 16º. Salvo do suor, estou de sangue doce.
15. Só danço samba, só danço samba, vai, vai, vai, vai, vai —