- Há muito poucas temporadas na vida. Para todas as coisas.
- Para os dias na praia. Na serra. Para os dias de ócio com quem amamos.
- Há muito poucas temporadas.
- Para os amigos, esses países que deixamos aos poucos de visitar, porque as estradas da rotina os insulam, porque o avião nos custa uma prata a cada dia mais rara de alcançar.
- Não penso em nada exagerado. Dois meses de férias para cada cidadão. Se é para aguentarmos as baboseiras sobre inteligência artificial, automação e intensidade laboral, que nos regalem ao menos alguma recompensa. Trata-se de uma justa reparação, por terem feito de nossa existência há décadas essa sensaboria atroz.
- Quinze dias para cada estação. Quatro temporadas por ano.
- Devidamente remuneradas. Um avanço global, talvez um real avanço, na contramão de nossa tendência de fazer avançar só o real sofrimento.
- Porque há muito poucas temporadas. Penso nisso enquanto espero pela hora do ensaio com minha antiga banda, a Hard Working Band. Nove anos desde o último show com eles. Como pôde ter passado tanto tempo? Porque mais que as duas noites com ingressos esgotados que se avizinham e me fazem estar em Porto Alegre, mais do que as músicas da soul music, com sua força de contágio dançante, estão esses amigos que fico tanto tempo sem ver.
- Quatro temporadas. Porque certamente perderemos uma seduzidos por alguma enganosa promessa de felicidade.
- Gostaria de ter palavras motivacionais:
10.1. Você pode fazer de cada dia uma temporada de férias
10.2. Ligue para um amigo que você não vê há muito tempo
10.3. Promova pequenas fugas de sua rotina
10.4. Um tempo de qualidade não precisa ser um tempo de quantidade.
- Estou falando de qualidade, mas com quantidade. Essa coisa de cozinha moderna, com espumas e arabescos, não tem meu coração.
- Quatro. Quinze dias cada. Há muito poucas temporadas na vida. E não sei a de vocês, mas a minha já vai andando para os cinquenta. A paz, a natureza, o combate ao aquecimento global já tiveram suas chances. Não temos um John Lennon ou uma Greta na causa, mas você pode fazer sua parte.
- Com a única temporada que temos por ano (e há muitos que sequer a têm) sobram poucas chances para repetecos, tripletecos, ademais a angústia dos que não veremos agora, tantos lugares a que não poderemos voltar, sítios que serão apenas sonho ao longo da existência. Estamos em um lugar em que os sortudos terão ido trinta, quarenta vezes a um lugar amado. Façamos a matemática. Acalentemos a meta quadruplicada.
- Como diz minha amiga Cássia Zanon, é sobre isso.
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Foto da Capa: Freepik