- Das histórias, os meios. Um pouco depois do imperioso captar da atenção da plateia no início, antes das artificiais peripécias para conduzir a história a um fim ainda mais artificial.
- O prazer de libertar-se do espalhafatoso, daquilo que se parece com os apelos pantanosos dos influenciadores digitais. Os meios não se explicam. Os meios são o que são, trégua, impossível equilíbrio.
- Em meu último exame de sangue, a vitamina D veio baixíssima, por isso não estranhe o blusão erguido nas costas e a brancura e as sardas expostas ao sol na janela da sala. Quinze minutos — o médico falou em ativação, mais um tal suplemento para garantir.
- Quase suar não é tão mal, ainda mais com o frio lá fora.
- Um hipotético vizinho do outro lado da Las Heras, sem as explicações que tive de dar no item 3, não saberia depois de duas ou três manhãs que eu preciso tomar sol? Ou que suponha o que lhe canta. O aprisionante desejo de conduzir, a glória magistral de demonstrar conhecimento. Quem sabe libertos de tudo o que tenta criar apenas um sentido, possamos olhar, ainda que tarde, para a forma do que estamos fazendo.
- Uma espécie de antídoto. O contrário de tudo o que o está na ordem do dia: protagonismos, narrativas, trajetórias, empatias. Subprodutos de histórias com inícios, meios e fins, que tão bem servem aos mercados e às ideologias.
- No meio não há aproveitamentos claros.
- Assim este modesto louvor do que está entre. Nós dois na estrada para o Brasil, em lugar nenhum, nos desertos do Uruguai, e a extensão infinita de tuas pernas, teus pés que só no meio de tudo parecem sempre pequenos para teu corpo.
- Coisas quentes, a memória e o sol. Um copo de água fresca, dizem vir da Patagônia.
- Volto para a mesa. É preciso terminar a crônica, mas é preciso também — e antes — ser coerente.
Foto da Capa: Freepik
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