- Para ações que de antemão sabemos que não vão dar em nada — e que ainda assim praticamos —, falta-nos um modo verbal. Ações que de partida não têm esperança nenhuma, que em nenhuma circunstância têm a possibilidade de se concretizar.
- Uma das riquezas das línguas neolatinas é a herança de seu quadro de ações, altamente organizado, com seus tempos perfeitos e imperfeitos, seus modos que indicam ações concretas (indicativo), ações irreais, possíveis ou dependentes de uma ação concreta (subjuntivo), além dos comandos ou ordens (imperativo).
- Por que não lançar mão de um modo capaz de revelar de partida o fracasso da ação? Amanhã irei à academia. Nada mais longe do real. Por que não dar ao meu interlocutor uma pista da impossibilidade?
- Sei que é uma proposta de antemão fracassada, a criação do modo inútil. As implicações morfológicas, de aprendizado (quando já colapsou o uso do subjuntivo) são um impeditivo. Mas exercitemos sua hipótese.
- O modo inútil seria conjugado em três tempos: pretérito imperfeito, presente e futuro do presente simples, os tempos que em latim pertenciam ao infectum (incompleto), ao contrário dos tempos do perfectum (completo), que já se realizaram de todo. Em português sobrevive esta noção no pretérito perfeito e no mais que perfeito, ou seja, mais que completo. Tudo para dizer que o modo inútil ganharia seu sentido de uso nos tempos ainda incompletos, mas de todo impossíveis de se concretizar.
- O tema severo seria aplicar as desinências, como revelar na conjugação o modo inútil. Para o pretérito imperfeito, roubando ao latim, acrescentaríamos um “ba” ao conjugar. Exemplo: Eu estudaba, sendo o “ba” a desinência para indicar o inútil. Eu estudaba matemática, ou seja, sem resultado. Eles praticabam o jejum intermitente (ou seja, com interrupções para gulodices). Economizábamos para uma viagem. Torciabamos para o Grêmio, etc.
- A real alegria linguística da proposta viria, contudo, por meio do uso do “bi” (outra vez roubado do latim) para o futuro. Somente quem comunga da verdadeira inutilidade das ações humanas se arrisca a denunciá-las no que ainda está por vir. Eu te pagabirei. Eles defendebirão um candidato honesto. Ela resistibirá à nova promoção de viagem.
- Lutei para encontrar uma desinência para o presente. Preguiçoso, não demorei a desistir, com o pálido consolo de que a hipótese estava lançada. Lamento, por fim, o que ganharíamos os irônicos com a existência de tal modo, mas faltava resolver o problema dos verbos irregulares. Ensaiarei por denguice, o item 8 em uma língua brasileira dotada do inútil.
- Eu lutaba para encontrar uma desinência para o presente. Preguiçoso, não demorei a desistir, com o pálido consolo de que a hipótese estaba lançada. Lamento, por fim, o que ganharíamos os irônicos com a existência de tal modo, mas faltaba resolver o problema dos verbos irregulares. Ensaiabirei por denguice, o item 8 em uma língua brasileira dotada do inútil.
Foto da Capa: Freepik
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