Na década de 2010-2019, ocorreu em Porto Alegre um movimento de muita efervescência criativa, inovadora e de iniciativas pró-sustentabilidade. Como professor na Escola de Administração da UFRGS, tive alunos que seguiram a carreira acadêmica, atividades diversas e alguns que se engajaram neste movimento. Sempre que possível, me envolvi nas atividades inovadoras e fui contagiado pelo clima que existia na cidade. Em 2011, participamos da gincana SWU, nos anos 2011/2012 do Porto Alegre Sustainability JAM; em 2012 oferecemos, juntamente com Cláudio Senna Venzke, Patrícia Dias e Lauro Ribeiro, oficinas no Fórum Social Mundial; em 2014 foi criada a IncubaEA, que teve a participação da Bárbara Basso. Os alunos participavam de muitos eventos, criavam startups ou contribuíam de outras formas. Todos nós acreditávamos: “desta vez, Porto Alegre vai dar um salto, vai se transformar numa cidade inovadora”.
Em 2015, o consultor americano, prof. Marc Weiss, fez uma palestra no evento Desafio Empreendedor na UFRGS e falou que havia sido contratado pelo governo do estado para desenvolver uma estratégia visando tornar o Rio Grande do Sul o estado mais sustentável da América Latina até 2030, mas com a mudança de governo, o projeto foi engavetado. Os participantes, em sua maioria na faixa dos 20 aos 30 anos, ficaram entusiasmados e convenceram o Prof. Marc Weiss a realizar para eles um curso sobre esta estratégia. E assim nasceu a Zona de Inovação Sustentável de Porto Alegre (ZISPOA), que funcionou os primeiros anos no coworking Paralelo Vivo. Ali passamos a acreditar que Porto Alegre poderia se tornar a cidade mais sustentável da América Latina até 2030. Da ZISPOA participavam jovens como Guilherme Viegas, Arthur Mallet Dias, Ricardo Pierozan, Demian Kapelius, Fabíola Pecce Pessoa, Tainan Caballero, entre outros.
Neste mesmo período, se fortaleceram movimentos como o da Net Impact, que organizava eventos e tinha como líderes Igor Czermainski de Oliveira, Julia Caon Froeder, Camila Luconi Viana e Bruno Oliva Peroni. Surgiram experiências interessantíssimas como o Estaleiro Liberdade, o Programa Germinar, cursos de formação como Guerreiros sem Armas e o jogo Oasis (ambos do Instituto ELOS). Este jogo permitia que, num final de semana, um grupo de voluntários revitalizasse uma praça juntamente com a comunidade usando uma metodologia desenvolvida pelo Instituto ELOS. Participei de uma experiência coordenada pelo Felipe Denz na zona sul de Porto Alegre que terminou numa linda festa de celebração daquela conquista.
Muitos dos meus alunos e conhecidos criaram empresas de consultoria ou passaram pelas Empresas Pulsar (Rafael Urquhart e Guilherme Viegas) e pela Semente (Márcio Jappe, Felipe Amaral, Maurício Vidor), ou empresas da área ambiental como Natália Pietzch com a Reciclo (depois Arco) e Eduardo Baltar com a Ecofinance. Cláudio Senna e Karine Freire inovaram criando empresas para cuidar da inteligência espiritual e da vida integral. O Rogério Gonzales e a Lauren Aita começaram como consultores parceiros e hoje se tornaram sócios de uma grande empresa de consultoria e estão residindo no Rio de Janeiro. Também com trajetórias em empresas de consultoria estão Daniele Eckert Matzembacher, em São Paulo, e Tiago Somacal, na Holanda.
A Perestroika, do Tiago Matos e sua turma, chegou a ser considerada a maior escola de atividades criativas da América Latina. Tive a oportunidade de fazer vários cursos na “Peres”, e eram realmente completamente “fora da caixa”. Lembro também de eventos inovadores como o Black Sheep Festival, que tinha como idealizadores João Ramos e Wayner Bechelli, e a participação do Bruno Bittencourt e Paola Schmitt. Em 2017, ocorreu o Fashion Revolution Day, outro evento disruptivo.
Vale lembrar que as Viradas Sustentáveis começaram em 2016, mobilizando a cidade e lançaram o prêmio para boas ideias sustentáveis. Ainda neste ano, a ZISPOA, em parceria com o Shopping Total, inaugurou a primeira estação de recarga de carros elétricos, com a presença do prefeito e do cônsul da Suécia.
Enfim, eu poderia descrever muitas outras iniciativas interessantes e citar pessoas que se envolveram nestas atividades. Meu questionamento hoje é sobre o que aconteceu com Porto Alegre no pós-pandemia? Do que eu chamei de “geração da década 2010-2019”, alguns continuam na cidade se reinventando e inovando, mas muitos foram embora. Onde está a geração que deveria substituir esta moçada que fez tudo isto na década passada? Sim, hoje temos o Instituto Caldeira, projetos na UFRGS, PUCRS e na Unisinos, algumas consultorias inovadoras, mas não na mesma proporção do período pré-pandemia. Me preocupa o futuro desta nova geração, pois boa parte dela parece estar passiva diante da vida.
Conversando com amigos, que de alguma forma assessoraram os movimentos da década passada, não existe um consenso sobre as causas, mas todos concordam que a nova geração não está no mesmo pique da anterior. Seria a pandemia, a polarização ocorrida nos últimos anos, a chegada da inteligência artificial, a enchente, o que teria acabado com a efervescência que existia? Por que tanta gente boa foi embora de Porto Alegre?
Obs.: 63% das pessoas citadas não residem mais em Porto Alegre.
Agradeço as contribuições de Agnes Françoise Straggiotti Silva, Marcello Lacroix e Sheila Becker, Cláudio Senna Venzke e Bruno Bittencourt.
Foto da Capa: Desafio Empreendedor UFRGS / 2015 / Divulgação
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